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Venezuela dividida

Vantagem pequena na eleição de Maduro mostra crise do modelo chavista e torna ainda mais complicada a missão do novo presidente

A vitória apertada de Nicolás Maduro provoca forte abalo nas pretensões do chavismo. O candidato oposicionista Henrique Capriles obteve 49% dos votos, contra os 50,75% de Maduro, que disputou como presidente interino do país.

A margem, estreita em qualquer contexto, torna-se ainda menor diante das circunstâncias que cercaram as eleições venezuelanas. Maduro concorreu como herdeiro político de Hugo Chávez, cujo funeral atraiu multidões há pouco mais de um mês. Teve, além disso, a máquina estatal ao seu lado e o apoio de 20 dos 23 governadores.

É evidente o desencanto com Maduro, que chegou a ter 20 pontos de vantagem em pesquisas do início de abril. Seu declínio, porém, é mais bem compreendido em perspectiva: há seis meses, o próprio Chávez foi eleito com 54,4% dos votos, resultado modesto se comparado aos 63% de 2006.

Torna-se cada vez mais difícil sustentar a retórica maniqueísta que o chavismo utilizou nos últimos 14 anos, dividindo o país entre uma maioria "bolivariana" e uma minoria de "burguesitos" --apelido dado aos opositores do governo. Até Fidel Castro disse a Chávez, anos atrás, que não há milhões de oligarcas na Venezuela.

Se quiser chegar ao final dos seis anos de mandato, Maduro, mais conciliador que Chávez, precisará abandonar a estratégia do confronto. Não é mais possível deslegitimar uma oposição que, com menos recursos e acesso limitado à TV, conquistou metade da nação.

Maduro tampouco poderá seguir com ações paliativas contra o atual descalabro econômico, que tem resultado em inflação fora de controle, desabastecimento e um deficit público de 15% do PIB. Medidas necessárias, mas impopulares, como a maxidesvalorização da moeda local e o aumento do preço da gasolina, terão de ser cogitadas.

Não será tarefa fácil. À insegurança econômica soma-se a fragilidade política --a liderança de Maduro é questionada, com força crescente, dentro dos próprios círculos chavistas, e o resultado de domingo parece não ter sido suficiente para legitimá-lo no comando da nação.

A insistência de Capriles em contestar o saldo das urnas é apenas sintoma desse quadro instável. Ainda que o sistema de votação pareça confiável do ponto de vista técnico, não faltam, nessa democracia tutelada, pretextos para duvidar das instituições. Instalada a controvérsia, seria melhor proceder à recontagem oficial dos votos.

Estão previstas para este ano, provavelmente em julho, eleições locais na Venezuela. Já não será surpresa se a oposição vencê-las.


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