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Opinião

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Robson Carvalho

A democracia está no caminho do meio

A força da sabedoria se sobrepõe à do grito. A força do exemplo, dos argumentos e da verdade fala mais alto que a da intolerância

Constituído pela Câmara Federal, a casa do povo, e o Senado, a casa dos Estados, o Congresso é a representação máxima do Poder Legislativo brasileiro.

É ali que os representantes da sociedade se encontram, no espaço mais apropriado da República, para debater e fazer dos dissensos consensos; das posições mais antagônicas, acordos. Tudo para viabilizar, ainda que de forma mínima, as condutas sociais sob a forma de leis.

O pressuposto da democracia é que tais leis sirvam de norte para a sociedade, partindo da ideia de que tenham nascido de uma representação legitimamente eleita, de tal sorte a formar uma Casa que efetivamente espelhe a diversidade que existe na população brasileira.

É natural, portanto, que o Congresso seja composto de pares tão díspares. Eles traduzem as diferenças do nosso povo. Essa convivência faz parte da democracia --e tem garantias constitucionais.

Mais do que isso: a humanidade hoje é multifacetada; conceitos antes padronizados vivem sob questionamento a cada segundo. É a caminhada da humanidade: ninguém, em sã consciência, pode questionar esse caminho. Está escrito no Evangelho, que serviu de base para nossas sociedades modernas.

Foi o Senhor Jesus Cristo quem disse que Deus, nosso Pai, dá o livre arbítrio a todos as pessoas (Mateus 5:45). Mas as escolhas de uns não podem ser impostas aos demais sem antes negociarmos com os diferentes segmentos nos foros apropriados, sob pena de construirmos novamente uma sociedade com o amálgama da intolerância.

Essa é a discussão que está posta na Comissão de Direitos Humanos, sob a presidência do deputado e pastor Marco Feliciano.

O pressuposto de que se tem partido na CDH, atualmente, é que Feliciano, como presidente, está credenciado para todos os diálogos necessários. Mas essa ponte precisa ser construída, o que é um processo político.

Não adianta ter a comissão como um palco para reafirmar pensamentos. Muito menos usar esse foro democrático como alto-falante para gritar mais alto, radicalizando posições --o que vale aqui para ambas as partes.

A força da sabedoria se sobrepõe à do grito e à da voz. A força moral do exemplo, dos argumentos e da verdade sempre fala mais alto que a da imposição e da intolerância. Lembremo-nos de Gandhi, do próprio Senhor Jesus Cristo, que nunca ergueu a voz (Isaías 53:7).

Se a CDH falhar em estabelecer esse diálogo, devolverá a tensão à sociedade --como já tem acontecido, aliás, deixando aos aproveitadores de plantão os benefícios suspeitos dos holofotes de oportunidade.

A Câmara não pode ficar paralisada. O país tem urgência de encontrar soluções para seus desafios. As comissões têm projetos valorosos que precisam ser votados. Não é possível conceber que um ocaso midiático domine o Congresso, sem deixar nada mais andar.

Se o deputado Marcos Feliciano foi infeliz em diversas declarações --e já se penitenciou o quanto pôde por isso--, é fato que chegou à Câmara por votação legítima de uma parcela do segmento evangélico.

Além disso, sua eleição como presidente da CDH teve o respaldo dos partidos representados no colegiado. Mas é evidente que Feliciano não representa todos os evangélicos, como se tem dito. São mais de 35 milhões de fiéis no Brasil. Ninguém pode se arrogar como representante unânime desse grupo.

Cabe à Câmara, que pavimentou a estrada para esse impasse, garantir uma saída democrática. E urgentemente, sob pena de falhar em seu objetivo maior, que é o de ser o foro para a construção do consenso possível no país.

Da mesma forma, é fundamental que os deputados que compõem a CDH, e não só Feliciano, saiam de posições radicais e achem o caminho do meio, que é o de Deus; o caminho do diálogo, com interlocutores à direita e à esquerda. Sem imposições, só negociações. De parte a parte.


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