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Ruy Castro

O lápis de ponta perfeita

RIO DE JANEIRO - Deu no jornal. David Rees, 40, cartunista americano, vendo-se sem ideias para criticar o governo Obama como fazia com o governo Bush, resolveu abandonar a carreira e abraçar outra. Tornou-se apontador profissional de lápis. Você perguntará: Mas essa profissão existe?

Para quem não se lembra, lápis era um objeto --digo, ferramenta-- que se usava para desenhar ou escrever. Ao fazer isto, a ponta de grafite se gastava, ficava rombuda ou quebrava. Era preciso "apontá-la", desbastar a madeira em volta e limar o grafite até que ele ficasse de novo em ponta. Para isso usava-se um aparelho chamado, não por coincidência, "apontador". Ou uma lâmina tipo canivete ou gilete. Pois, até há pouco, isso era para amadores.

Rees é um profissional. Para ele, apontar um lápis é algo tão sofisticado quanto escrever ou desenhar. Exige destreza, atenção e paciência, além de vasto equipamento: apontadores (de manivela), estiletes, lâminas (de diversos calibres), tornos, tesourinhas e lixas. Na sua mão, uma ponta perfeita pode levar 45 minutos. Não admira que cobre US$ 40 por cada pequeno lote, e não lhe falte serviço. O cliente tem garantia.

Quando se podia jurar que ninguém mais usava lápis, Rees ostenta uma clientela composta de escritores (há os que só se sentem "escrevendo" se escreverem a mão), engenheiros, arquitetos, designers, diretores de arte, artistas gráficos e, claro, milhares de escolares cujas mães insistem em que eles cheguem ao colégio no primeiro dia com os lápis apontadinhos. Morasse no Rio, Rees seria disputado pelos últimos proprietários de botequim que ainda usam lápis atrás da orelha.

Eu já suspeitava da sobrevivência dos lápis --às vezes vejo alguns sobre a mesa do meu amigo Helio de Almeida, diretor de arte, em São Paulo. Mas não sabia que se podia viver de mantê-los vivos.


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