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Carlos Heitor Cony

A verdade da comissão

RIO DE JANEIRO - O principal motivo para a criação da Comissão Nacional da Verdade, sobre o qual todos concordam, é a lição, o exemplo histórico contra a instalação criminosa e a permanência assassina de um regime autoritário que mutila, física e espiritualmente, uma sociedade inteira.

Discute-se agora se os torturadores e esbirros do regime de 1964 devem ou não se beneficiar da anistia que teria sido negociada entre a opressão e os oprimidos.

A razão final para as investigações e possíveis punições seria a condenação de todos os movimentos que atentam contra os direitos humanos. Uma advertência radical para que não mais se repitam tantos e tamanhos crimes.

Acontece que a lição tem destinatários complexos. Não se trata de punir o sargento Azambuja, o comissário Peçanha, o policial Noronha. Todos os criminosos, de agora e de outros regimes de força, alegam que cumpriram ordens. O trabalho da Comissão da Verdade está pecando pela horizontalidade das culpas, quando o importante é exibir para a história a verticalidade dos crimes.

A própria sociedade não está inocente. Ela não se manifestou adequadamente contra o primeiro Ato Institucional, que na realidade foi o começo de tudo. Somente no AI-5, mais de quatro anos depois, é que a sociedade tentou iniciar a reação que, acrescida à desmoralização e desgaste do próprio regime militar, resultou no funeral da ditadura.

Há um esquecimento generalizado do apoio que a sociedade deu ao golpe de Estado de 64. Imprensa, igreja, empresários e até gente do povo se alegraram com a tomada do poder pelos militares. De 64 a 68, as reações foram setorizadas e poucas. Quem quis e pôde manifestou-se contra a violência. Sem dar razão aos vencidos, condenou os vencedores. E pagaram por isso.


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