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Opinião

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Fernando Schmidt

Aprofundar vínculos

Há interesse pelo Chile no Brasil. Mas, muitas vezes, meu país é associado a um produto (o vinho) ou a um serviço (turismo)

É curioso que o Chile, com apenas 16,5 milhões de habitantes, seja o maior investidor latino-americano no Brasil. Raras vezes é mencionado que o volume de nosso comércio atinge os US$ 10 bilhões, cifra semelhante à do intercâmbio entre Brasil e México.

Tampouco é conhecido o fato de que, atrás dos argentinos, norte-americanos, alemães e uruguaios, são os chilenos que mais visitam o Brasil, e que, nos primeiros meses deste ano, os números demonstraram crescimento exponencial.

As amizades sem fronteira, como a do Chile e Brasil, são curiosas. Implicam uma ausência de conflitos e, ao mesmo tempo, uma falta de incentivo. Estamos a três horas de de avião e a um dia de automóvel, mas pouco nos conhecemos.

Se queremos nos conhecer mais, é preciso romper a inércia, superar o ditame geográfico, compreender melhor nossas respectivas sociedades a fim de encontrar seus aspectos complementares e aplicar a imaginação a esse propósito.

A imagem do Chile no Brasil está segregada. Nos poucos meses transcorridos desde que assumi a missão diplomática chilena em Brasília, constatei que, nos mais altos níveis de decisão, existe uma referência de interesse pelo Chile. Mas as imagens se diluem e, muitas vezes, meu país é associado a um produto (o vinho), um serviço (turismo) ou a uma situação política pontual.

Nos próximos cinco anos, grande parte da produção agrícola de grãos do Chile se realizará com tratores Mahindra, de tecnologia indiana, fabricados no Brasil pela Bramont, controlada pela chilena Gildemeister.

A poucos passos do mercado central de São Paulo, a renovação urbana vem desenvolvendo projetos imobiliários que dependem em parte de empresas chilenas.

Dentro de mais algumas semanas, e com investimento de US$ 2,2 bilhões, serão iniciados os trabalhos em uma nova fábrica da Celulosa Riograndense, investimento chileno que gerará milhares de empregos no Rio Grande do Sul.

O sistema de ensino superior do Chile é o que mais recebe bolsistas brasileiros do programa Ciência sem Fronteiras.

Dispomos de dados brutos que nem sempre processamos ao descrever o relacionamento entre nossos países. Estou certo de que, quando observarmos o panorama completo, nos surpreenderemos.

Ainda assim, é um dado objetivo que temos lacunas, não tanto por falta de acordos assinados (às vezes, creio que tenhamos até um excesso deles), mas por contemplarmos os mesmos horizontes em termos um tanto competitivos.

Por exemplo, nossos sistemas financeiros estão bem integrados, por obra de nossas múltis latinas, ou ainda nos voltamos aos centros tradicionais de finanças? Não podemos fazer algo mais para que nossa cooperação internacional se dirija a países que conviriam aos interesses do Chile e do Brasil?

Hoje, temos recursos cada vez maiores destinados à inovação. Estamos integrados em setores de ponta de interesse recíproco, ou a maioria dos programas se dirige a alianças com centros de pesquisa de fora de nossa região?

Sem dúvida, algo acontece conosco e precisamos refletir. É necessário conduzir nossos esforços como embaixada a uma dimensão mais horizontal de relacionamento. Devemos aproveitar as forças que diversos setores já integrados oferecem. Eles não devem ser considerados coadjuvantes dessa relação, como se não gerassem investimentos, postos de trabalho e receitas. Porque geram uma enorme rede de conexões e um conhecimento extraordinário do "outro".

Dentro de poucos dias, colocaremos o discurso em prática na casa dos chilenos em Brasília, que, mais que sede diplomática, queremos ver transformada em sólida ponte e, ainda melhor, em um vulcão de ideias para potencializar o relacionamento entre dois países irmãos.


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