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Muito além das macas

A imagem do paciente agonizando sobre uma maca largada no meio do corredor se tornou o símbolo de tudo o que há de errado no sistema de saúde do país.

Recorrendo ao poderoso estereótipo, o Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp) escolheu marcar o lançamento da campanha "Prontos-Socorros em Agonia. Até quando?" com a denúncia de que 58% das unidades de pronto atendimento que atendem pelo SUS têm macas no corredor.

O dado soa ainda mais preocupante quando analisado ao lado de outros indicadores colhidos pela comissão de fiscalização do Cremesp que visitou 71 prontos-socorros entre fevereiro e abril deste ano. É preciso, entretanto, um certo cuidado ao lidar com estereótipos; nem todo hospital que coloca um paciente no corredor é incapaz de prestar bom atendimento.

Em princípio, é perfeitamente aceitável que o doente, depois de examinado e medicado, permaneça numa maca enquanto aguarda resultados de exames ou uma vaga para internação. O ideal é que a espera transcorra em salas de observação, mas, se elas estiverem cheias, não chega a ser um descalabro posicioná-lo no corredor.

A situação muda de figura quando o fenômeno é generalizado e o paciente passa dias na maca, o que infelizmente ocorre em muitos serviços paulistas. E a lista de despautérios é muito maior.

É inaceitável que 58% dos serviços vistoriados estejam com as equipes médicas incompletas ou que 59% relatem faltar algum tipo de material crítico, como marcapassos externos e oftalmoscópios.

Há, sobretudo, um problema sistêmico: 66% dos postos relataram dificuldades para encaminhar pacientes a serviços especializados.

O sistema de referência e contrarreferência é a espinha dorsal do SUS: o doente entra no sistema por um PS ou unidade ambulatorial; a maioria dos casos se resolverá ali, mas os mais graves precisam ser levados a serviços capazes de intervenções mais complexas.

O caminho de volta (contrarreferência) também é importante. Uma vez que o paciente recebeu o diagnóstico, ou a cirurgia de que precisava, deve voltar a ser acompanhado por um médico mais próximo de sua casa.

Se tais mecanismos não funcionam bem, a tendência é sobrecarregar todas as unidades do serviço de saúde pública. Daí surgem o congestionamento de macas e a consulta após vários meses.


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