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Hélio Schwartsman

Destruição em massa

SÃO PAULO - Agora é oficial. O regime de Bashar al-Assad usou armas químicas contra seus opositores. O Ocidente deve intervir militarmente na Síria? Não tenho resposta a essa pergunta, mas tenho uma indagação a acrescentar.

Não entendo a fixação de nossa espécie com os meios. A guerra civil síria, iniciada há pouco mais de dois anos, já deixou um saldo de 90 mil mortos e milhões de refugiados. Se esses números não foram capazes de motivar as potências a costurar um plano de ação, por que o instrumento através do qual se produziu uma pequena fração dessas vítimas deveria fazer alguma diferença?

O fato é que, em termos de percepções, faz. Colocamos artefatos nucleares, biológicos e químicos na categoria de armas de destruição em massa (ADMs), que enxergamos como mais imorais do que revólveres e fuzis, apesar de produzirem um número muito menor de óbitos. Vale lembrar que ADMs foram o falso pretexto para a invasão do Iraque.

Essa visão não está limitada a guerras. Nosso Código Penal incorre na mesma inclinação. Se eu matar um sujeito de forma intencional e premeditada, pego de 6 a 20 anos de cadeia. Porém, se o método utilizado na consecução da tarefa incluir veneno, fogo, explosivo ou asfixia, a pena salta para 12 a 30. Por quê?

Receio já ter sido infectado pelo consequencialismo, mas não consigo ver muita diferença entre ser envenenado ou esfaqueado. Dependendo da droga escolhida e do local dos golpes, fico com a primeira opção. Mas, se a maioria das pessoas sente as ADMs e os tais dos meios insidiosos como piores que os ordinários e não encontramos razões objetivas para explicar isso, estamos provavelmente diante de um viés biológico ou cultural. Meu palpite é que associemos essa categoria a outras etiquetas negativas como traição e crueldade, que são tóxicas para a coesão social, um dos principais motores evolutivos de nossa espécie hipersocial.


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