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Ruy Castro

Caro ser pobre

RIO DE JANEIRO - As roupas dos meninos têm rasgões. As camisas sujas e mal-ajambradas e as calças, curtas e largas, parecem ter migrado de um irmão a outro sem passar pelo tanque ou pela Singer de manivela. As meninas também vestem roupinhas encardidas e se atracam a enormes chupetas. As maiores levam as menores no colo. Todas usam laços, cachos ou pitucas no cabelo. Sorriem envergonhadas --posar para um fotógrafo ainda devia ser novidade.

Os rostos dos velhos têm muitas rugas. O deficit dentário é ostensivo, mas eles não o escondem para a câmera. O chapéu é uma constante. O paletó também, mesmo nas profissões mais grosseiras, daí as mangas se descosturando e os bolsos soltos, desbeiçados. Velhos ou moços, seus pés estão sempre descalços sobre ruas e estradas sem calçamento.

A paisagem, inclusive nas cidades, tem um quê de rural. O capim cresce nas frestas do cimento. A presença de cabras e galinhas sugere uma roça, mas é uma favela urbana, com o mar lá embaixo. Os casebres são de madeira, papelão ou zinco. Mulheres carregam latas d'água, originalmente de banha, na cabeça.

Este é o Brasil dos anos 40 e 50 nos livros de fotógrafos como Luiz Carlos Barreto, Flavio Damm e o alemão radicado aqui, Kurt Klagsbrunn, lançados ultimamente. Por essas duras imagens em preto e branco, tem-se a impressão de que a pobreza era mais pobre naquele tempo.

Hoje, mudou. A favela não tem esgoto nem escola, mas as casas são de alvenaria e têm internet e TV de LED. Os rapazes usam brinco, as moças levam o celular em capinhas fashion. Ninguém anda rasgado. Todos são bonitos e a postos para as lentes. No asfalto, moradores de rua dormem em barracas de camping e dispõem de laptops. No novo Brasil, ficou mais caro ser pobre.

Os leitores terão folga deste colunista até o dia 26.


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