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Carlos Heitor Cony

"Penne arrabbiata"

RIO DE JANEIRO - Um conhecido de vista e chapéu, como aquele cara que Dom Casmurro encontrou num trem da Central, mesmo sem chapéu, me cumprimentou e perguntou se podia bater um papo. Como as donzelas dos romances antigos, não gosto de conversar com estranhos, mas topei a liberdade e ele sentou-se na mesa onde, sozinho, eu almoçava um "penne arrabbiata".

"O senhor sabe quem está por trás dos atos de vandalismo em São Paulo e em outras cidades brasileiras?"

Ia responder que não, nem queria saber, mas o homem já tinha começado: "Tenho lido o que a mídia está dizendo a respeito. Os entendidos são unânimes em afirmar que o movimento é organizado, e não espontâneo, como a vaia que deram na presidente no estádio de Brasília. Sendo possível ou sendo verdade, quem estaria interessado em bagunçar a paz da sociedade brasileira?".

E continuou:"Nenhum dos partidos existentes. Em 64, as marchas por Deus e pela democracia eram coordenadas e financiadas pelo dinheiro do trigo que o embaixador Lincoln Gordon desviava para armar uma situação que justificaria a intervenção dos Estados Unidos, que já tinham mandado uma esquadra para garantir a invasão".

"A quem interessa uma ruptura do regime democrático que, bem ou mal, estamos mantendo? Não temos nem o ouro de Moscou nem o dinheiro dos cubanos que sonhavam com uma nova Sierra Maestra. O PT, especializado em orquestrar a voz das ruas, faria tudo para se conservar no poder. Os evangélicos, os gays, os ecologistas?"

"Com a Comissão da Verdade ameaçando chegar aos torturadores do regime de 1964, com a repulsa aos militares que estão sendo chutados como cães atropelados, qual o grupo interessado em virar a mesa?"

O sujeito foi embora e eu per- di a vontade de comer o meu "penne arrabbiata".


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