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Luiz Guilherme Piva
TENDÊNCIAS/DEBATES
Economia da celebridade
A novidade é que nenhum mercado tão vasto se estruturara com base em tecnologia tão eficiente e com resultados tão generosos
Celebridade não é somente a pessoa famosa. É também a informação acerca de quem é ou se torna famoso, por razões nobres e/ou supérfluas, de forma duradoura e/ou fugaz e em circuitos amplos e/ou restritos, públicos e/ou privados.
Hoje, a celebridade é um bem econômico de grande relevância, tornado abundante pela revolução tecnológica das comunicações e das redes sociais. Trata-se de um mercado com crescente otimização de oferta e demanda.
Visto de hoje, até recentemente ele não apenas estava longe de seu ponto ótimo, porque havia enorme demanda não atendida, como também aquilo que era insuficientemente ofertado gerava mais e mais demanda, como se o seu consumo açulasse a disposição crescente ao consumo.
Eis a primeira especificidade desse bem. Sua chamada utilidade marginal é crescente. Traduzindo: o consumo de uma informação sobre celebridades em nada diminui (antes, aguça) a demanda por outras informações. O seu consumo, em vez de satisfazer, aumenta a avidez do consumidor, gerando uma espécie de demanda infinita, sem risco de haver crise por excesso de oferta.
Outra especificidade é que, para as mídias e redes, o custo de ofertar informações é baixo (porque é a celebridade quem investe em si mesma e na geração de notícia) e praticamente constante, não se alterando em função do volume de informações fornecidas.
Simplificando, o custo unitário de fornecer informações adicionais é decrescente --sem falar da incessante renovação do produto e do seu giro imediato, sem estoque, sem logística, sem perdas e sem depreciações. Uma situação propícia a enorme lucratividade.
Essa atividade profícua não era explorada em função da rusticidade dos mecanismos de oferta e de consumo. A revolução das redes de compartilhamento praticamente infinito e em tempo real é que tem produzido a inaudita configuração acima.
A rigor, não é algo inusitado. É sabido que fenômenos econômicos sempre respondem a condições sociais (necessidades e desejos). E que o engenho humano opera para otimizar tal resposta. A novidade é que, salvo engano, nenhum mercado tão vasto se estruturara com base em tecnologia tão eficiente e com especificidades e resultados tão generosos para os ofertantes.
Há outra especificidade interessante nesse mercado. Do lado dos consumidores, ele se comporta como o dos chamados bens de Giffen. E, do lado das celebridades, como o dos chamados bens de Veblen.
Explico, respectivamente, essas nomenclaturas teóricas.
Os consumidores se dispõem a adquirir sempre mais do produto, ainda que tenham que gastar mais, porque atribuem a ele utilidade prioritária. E as celebridades, por considerarem que tal condição as posiciona melhor em status e reconhecimento, se dispõem a investir cada vez mais para obtê-la e mantê-la (eventos, aparência, assessoria), mesmo que a custos crescentes, porque é essa diferenciação o produto a que elas atribuem maior valor.
O curioso é que os bens de Giffen são considerados inferiores, muito baratos. E os de Veblen são os bens reconhecidamente ostentatórios, muito caros. O que, convenhamos, é uma interseção heterodoxa.