Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Opinião

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Reorientar o transporte

Em dez anos, 1,5 milhão de novos carros conheceram as ruas de São Paulo. A frota da cidade passou de 3,4 milhões para 4,9 milhões.

Tomada por seu valor de face, a notícia revela o aumento da renda individual e o sucesso dos programas de redução de impostos para a indústria automobilística.

Ao somar estímulos tributários --o que inclui o preço da gasolina mantido artificialmente baixo-- às vantagens de possuir um automóvel, parte significativa dos paulistanos achou por bem adquirir veículo próprio. E o fez ciente de que, em boa parte do tempo, o carro estaria preso nos congestionamentos.

Não se trata de constatação de somenos. É razoável supor que poucos optariam pelos engarrafamentos se houvesse opção menos incômoda. Diante da péssima qualidade do sistema público de transporte coletivo, porém, cada vez mais gente prefere o individual.

As razões são conhecidas. Ônibus passam pelos pontos com frequência baixa e imprevisível. Nos trajetos de maior fluxo, a duração das viagens é incerta --ou não há corredores exclusivos, ou eles não têm área de ultrapassagem.

São problemas que não afetam trens e metrô, mas a malha serve uma área pequena da cidade. Além disso, os vagões, a exemplo do que ocorre com os ônibus, são lotados.

Melhorar o transporte público exige investimentos de monta. Verbas para isso até existem, mas sucessivos governos, nos três níveis, precisariam redefinir prioridades.

O incentivo aos automóveis custou, em isenções fiscais, ao menos R$ 32,5 bilhões desde 2003. Dinheiro pago pela sociedade, que abriu mão desses recursos em benefício de um setor relevante da economia --a recuperação da indústria automotiva foi fundamental para o crescimento de 7,5% do PIB em 2010.

Trata-se, sem dúvida, de escolha possível. Mas, se a opção fosse outra, poderiam ter sido construídos 150 km de metrô ou 1.500 km de corredores de ônibus com a mesma cifra. Isso permitiria triplicar a atual malha metroviária de São Paulo, ou mais que decuplicar o total de corredores existentes.

Investimentos no transporte público levam tempo, mas seus efeitos são duradouros. Incentivos à indústria automotiva geram resultados quase imediatos, mas podem ser passageiros. Os estímulos ao setor, aliás, já têm se mostrado incapazes de ressuscitar novamente o crescimento econômico. Está dada a ocasião para rever a prioridade ao transporte individual.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página