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Opinião

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Investigação nos trilhos

Era natural que, há pouco mais de um mês, fosse recebida com desconfiança a declaração de apoio do governador Geraldo Alckmin (PSDB) às investigações sobre a existência de um cartel nas licitações de trens e metrô de São Paulo.

Poderia, sem dúvida, haver sinceridade no gesto. A experiência, porém, sugeria que o governador somente praticasse um conhecido jogo de cena, pelo qual políticos fingem indignação diante de um episódio fraudulento tornado público, mas nada fazem para apurar responsabilidades.

O tempo do ceticismo se esgotou. Se Alckmin estivesse mesmo disposto a esclarecer o escândalo milionário que atinge sucessivas administrações tucanas no Estado, poderia ter adotado medidas mais concretas que palavras favoráveis a "toda a transparência" e "suas consequências".

Não é pouco o que está em jogo. O caso, revelado por esta Folha há dois meses, envolve a delação de um cartel pela alemã Siemens, ela própria partícipe dos acordos feitos para burlar diversas licitações --e, com isso, lesar os cofres públicos.

Documentos revelam a combinação de resultados entre as empresas que deveriam ser concorrentes, com a finalidade de aumentar, em até 30%, os preços que o Estado paga pelos serviços oferecidos.

O esquema existiria desde o ano 2000, no governo Mário Covas, e se prolongaria nas administrações seguintes, de Geraldo Alckmin e José Serra --não há, até aqui, prova de envolvimento das autoridades.

Mais que a longevidade do esquema, chamou a atenção o fato de Claudio de Senna Frederico, ex-secretário de Transportes da gestão Covas, afirmar não se lembrar de nenhuma licitação competitiva.

Sobram razões, portanto, para que o caso seja investigado nas variadas frentes disponíveis. Geraldo Alckmin e sua base de apoio, apesar das palavras, mostram entendimento divergente.

A Assembleia Legislativa de São Paulo, amplamente dominada pelo PSDB e seus aliados, poderia ter instaurado Comissão Parlamentar de Inquérito sobre os transportes. Como seria de esperar --e de lamentar--, contudo, ela não o fez, e nada sugere que virá a fazê-lo.

Os deputados estaduais iniciam nesta semana três CPIs, mas nenhuma delas tocará, nem de leve, no Executivo --como tem sido, há anos, a tradição da Assembleia. Em agosto, foram extintas comissões criadas para apurar a pesca predatória e a gordura trans.

Não fosse o prejuízo que o cartel impõe ao Estado, seria o caso de rir das prioridades investigativas dos legisladores paulistas.


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