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Ruy Castro

Mistérios da vida privada

RIO DE JANEIRO - As escavações do metrô do Rio revelaram um valioso sítio arqueológico perto da Leopoldina, na praça da Bandeira, com artigos de uso pessoal da família imperial. O palácio ficava na vizinha São Cristóvão, e o sítio era onde se despejava refugo --frascos de perfume, louça, porcelana, joias, moedas. E como, para a arqueologia, não existem cacarecos, uma preciosidade é a escova de dentes, esculpida em osso e marfim, com a inscrição "S.M. L'Empereur du Brésil".

Tudo indica ser uma escova que d. Pedro 2º (1825-1891) usou por algum tempo. Mas por quanto tempo? Já sem as cerdas de porco originais, conclui-se que foi bastante exigida. Quantas vezes Sua Majestade escovava os dentes por dia? A que intervalos trocava de escova? Quantas escovas teria usado em seus 66 anos? E com quantos dentes morreu?

A vida privada de muitos homens célebres nunca foi levantada. Quantos banhos, por exemplo, Shakespeare (1564-1616) tomou em vida? A uma média (otimista) de um por semana, durante 52 anos, chegaremos a 2.600 banhos --será? E o compositor alemão Beethoven (1770-1827) terá alguma vez tirado cera dos ouvidos? E se sua famosa surdez não tiver sido apenas excesso de cera?

Quantos beijos a escritora inglesa Jane Austen (1775-1817), que morreu solteira e virgem, terá dado ou recebido de um homem? Talvez zero. Quantos charutos seu conterrâneo, o primeiro-ministro Winston Churchill (1874-1965), fumou? A uma média (confirmada) de 15 por dia, durante 60 anos, ele pode ter fumado 328.500 charutos --mas é só uma especulação. E o ditador italiano Benito Mussolini (1883-1945), notório por roncar, a quantos decibéis chegariam os seus roncos?

Os grandes homens de hoje --os pequenos, também-- não deixarão segredos a descobrir. Eles próprios nos contam tudo que fazem, e até mesmo antes de fazê-lo.


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