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Opinião

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Ivan César Ribeiro

TENDÊNCIAS/DEBATES

Shiller e os riscos econômicos

Seus alunos testemunharam seu esforço em procurar soluções que amenizassem o sofrimento humano no auge da crise financeira de 2008

Premiado com o Nobel de Economia por sua pesquisa sobre o papel da psicologia na determinação dos preços de ações, o professor de Yale Robert Shiller inaugurou uma nova área, a das finanças comportamentais, ao questionar a suposta racionalidade dos mercados financeiros. Sua contribuição, no entanto, é mais extensa.

Seus alunos em Yale, em especial aqueles de 2008, no auge da crise financeira mundial, entre os quais se inclui este autor, testemunharam seu esforço em procurar soluções que amenizassem o sofrimento humano em meio à tragédia.

Desde 2000, Shiller se debruça sobre desastres econômicos. Criticou a cultura de demissões em massa que atingia setores da atividade empresarial --dispensas que desafiavam a lógica econômica, servindo apenas para mostrar a austeridade de novos administradores e gerar uma valorização de curto prazo das ações dessas companhias. Essas políticas, conforme discutiu, tinham efeitos perversos e devastadores sobre os demitidos, um dado que não deveria ser ignorado.

Notou a frequência com que profissionais qualificados acabavam por ficar em situação difícil. No caso das empresas americanas, observou que os funcionários eram incentivados a investir em ações da empregadora, formando um pecúlio para sua aposentadoria. Quando essas empresas enfrentavam problemas ou fechavam, os funcionários ficavam a um só tempo sem emprego, sem poupança e sem aposentadoria.

A inovação financeira parece, em sua análise, não dar conta desses riscos. Por exemplo, no setor de hipotecas, a maioria dos agentes acreditava que estaria diversificando o risco das aplicações ao investir em imóveis de diferentes localizações geográficas. A crise de 2007/2008 evidenciou a correlação entre os investimentos --quando um perdia valor, os outros também perdiam.

A solução que Shiller propõe, entretanto, é o uso da mesma inovação empregada no desenho de produtos financeiros para a criação de uma espécie de seguro contra desastres financeiros. Sugere a criação de financiamentos ligados à renda do tomador, a criação de mercados para transacionar grandes riscos e a criação de seguros contra a má distribuição de renda.

A inovação financeira também serviria para evitar episódios de euforia nos mercados, fadados a acabar em grandes desvalorizações de ativos, liquidação de empregos e redução das poupanças. Um dos melhores exemplos dessa inovação foi o índice que criou com o economista Karl Case. Hoje divulgado pela Standard & Poor's, mostra com acuidade a valorização no setor imobiliário, ajudando os agentes a decidir sobre o risco de se investir.

Em seu livro "Animal Spirits", escrito em coautoria com George Akerlof, outro ganhador do Nobel, examina o efeito da confiança e do sentimento de justiça sobre fenômenos da macroeconomia, como o desemprego e a poupança. Mostra como bancos centrais deveriam considerar aspectos comportamentais ao lidar com as crises e tomar decisões.


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