Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Opinião

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

A ficção da saúde

Imagine a cena. No Brasil profundo, em uma cidade com menos de 20 mil habitantes, uma clínica médica resolve desviar recursos do Sistema Único de Saúde, o SUS.

O golpe é simples. Trata-se de emitir recibos de procedimentos médicos nunca realizados e receber verbas como se o atendimento tivesse sido prestado. Para identificar o paciente, basta registrar pessoas mortas ou repetir até 201 vezes o nome de um mesmo indivíduo --ainda que para consultas efetuadas em um único dia.

Não parece muito crível esse enredo, mas, não sendo um filme, a verossimilhança é irrelevante. Foi o que imaginou uma clínica oftalmológica de Água Branca, no Piauí. Segundo auditoria do Ministério da Saúde, as fraudes do estabelecimento, verificadas no ano de 2011, resultaram em extravio superior a R$ 2,5 milhões --valor que a pasta agora tenta reaver.

Em Miranda do Norte, cidade do Maranhão com menos de 25 mil habitantes, outra situação surreal. No período de um ano, o hospital municipal atendeu 27,9 mil pessoas para tratamento de glaucoma --grupo de doenças que afetam o nervo óptico e atingem cerca de 5% da população, em geral nas faixas etárias mais avançadas.

Foram tomados indevidamente dos cofres públicos, nesse caso, quase R$ 2 milhões. Conforme mostrou reportagem desta Folha no domingo, a esse desvio somam-se diversos outros, como aplicação irregular de recursos destinados à saúde, funcionários fantasmas, equipamentos não encontrados e licitações inexistentes.

De 2008 a 2012, as fraudes custaram ao SUS pelo menos R$ 502 milhões, segundo 1.339 auditorias realizadas pelo governo federal.

Em termos relativos, o montante não chega a 1% do orçamento do Ministério da Saúde em 2012. Em valores absolutos, é suficiente para construir 227 UPAs (unidades de pronto atendimento) --hoje existem cerca de 270 em todo o Brasil.

Como se já não fosse um absurdo, a cifra pode ser ainda maior, já que as investigações são feitas após denúncia ou por amostragem. Sem fiscalização mais eficiente, essa hemorragia de recursos públicos não será estancada.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página