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Hélio Schwartsman

Experimentação animal

SÃO PAULO - É moralmente lícito fazer experimentos com cães? A meu ver, a mais consistente defesa dos animais vem pelo pensamento de Peter Singer, que é um consequencialista radical, isto é, alguém para quem o valor de uma ação é dado não por princípios deontológicos, mas pelos resultados que produz.

Nesse contexto, agir moralmente é não infligir sofrimento desnecessário e maximizar o bem-estar. Isso já basta para legitimar experimentos que produzam mais bem do que mal.

Para Singer, tais considerações valem não só para o homem, mas para todos os seres sencientes. Daí não decorre que não exista diferença entre uma criança e um pernilongo. Há uma hierarquia entre os seres vivos, que é dada por sua capacidade de experimentar dor e por seu grau de consciência. Vegetais aparecem lá embaixo e mamíferos vêm no alto. Complicador: uma pessoa em coma pode valer menos que um cachorro saudável. Singer aceita bem isso.

Outro momento em que a porca torce o rabo para os consequencialistas é na hora de fazer as contas. Não é difícil admitir o sacrifício de algumas cobaias para encontrar a cura para uma doença fatal que afete milhões de pessoas, mas e quando os valores envolvidos são mais etéreos? Quantas dores de cabeça humanas justificam matar um ratinho?

Não há resposta final. Para o vegetariano, abater um mamífero para comê-lo é errado, mas a maioria das pessoas e a totalidade das espécies carnívoras não pensam assim.

A meu ver, a posição ética aqui é tentar limitar cada vez mais experimentos fúteis, como os que envolvem cosméticos, e seguir adiante com aqueles que, um dia, poderão resultar em benefícios mais palpáveis.

Não há como avançar no conhecimento de doenças sem infligir sofrimento a cobaias. E não dá para invocar o consequencialismo, que funciona tão bem para estender considerações éticas aos animais, e jogar fora as partes que nos desagradam.

helio@uol.com.br


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