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Opinião

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Nilton Bonder

TENDÊNCIAS/DEBATES

É certo usar animais em pesquisas científicas?

NÃO

Homem ou rato?

Sou contra a experimentação científica com animais não humanos da maneira cruel e indiscriminada como é feita hoje. E sou contra mais pela intenção de preservar o próprio ser humano do que apenas os animais.

Sem dúvida é relevante a discussão ética sobre os direitos dos animais entendidos como uma minoria desprotegida, e a responsabilidade sobre eles é equiparável à responsabilidade por "menores" ou "interditados" legalmente.

É importante a identificação com o sofrimento animal como uma questão moral, que não permite a indiferença. O uso de critérios raciais de inferioridade comparativa é uma inaceitável ameaça às conquistas que nos afastam de perversões, escravaturas, inquisições, autoritarismos e nazismo.

Acho, porém, que todas essas razões não são suficientes para evitar o uso dos animais em experimentos, porque são todas reivindicações por direitos. E o direito de um termina diante do direito do outro.

E quando criancinhas estiverem no lugar do direito do outro; e quando essas criancinhas forem nossos filhos, ou quando forem nossos pais, ou nós mesmos, então todos esses argumentos por direitos cairão por terra, desqualificados por todo o tipo de racionalização.

Portanto, baseio a minha opinião não em direitos, mas em deveres. E o maior deles é salvar não os animais, mas a nossa humanidade.

Um belo conto relata que um rabino estava numa carroça puxada por um cavalo e guiada por um cocheiro. A dada altura, surgiu uma ladeira e o animal começou a esforçar-se para subi-la. O rabino saltou de imediato da carroça e foi logo questionado pelo cocheiro: "O que está fazendo?".

"Não quero que meu peso faça o animal sofrer", disse o rabino. "Mas então um ser humano, um rabino, deve ele sofrer subindo a ladeira no lugar de um mero cavalo?", argumentou o cocheiro. "Exatamente por essa diferença que você aponta foi que desci. Um ser humano, um mestre, com certeza não quererá se ver no tribunal do Mundo Vindouro em litígio com um simples cavalo!", sentenciou o rabino.

Há um dever humano, mais do que um direito animal em questão. E há um esforço, um custo ao ser humano por sua consciência e pelos deveres que ela nos impõe.

A ciência não pode nos levar de volta ao passado violento de nossa humanidade, em que os fins justificavam os meios. Nem pode a ciência nos reduzir a animais que apenas se diferenciam de outros animais por sua capacidade de se justificar.

Vamos descer da carroça e pagar o preço de nossos deveres. Eles se impõem, não pelo cancelamento de pesquisas tão necessárias, mas pela implementação de métodos alternativos e por uma maior e melhor regulamentação e fiscalização dos centros de pesquisas, tenham eles finalidade comercial ou didática.

Os avanços da ciência não são um bem absoluto para nossa humanidade apenas quando nos salvam da morte, mas tão somente quando nos salvam também para a vida. Afinal, você é um ser humano ou um rato?


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