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Opinião

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Enfim, os caças

Escolha dos modelos suecos, que aliam menor custo a transferência tecnológica, é desfecho ponderado para uma negociação arrastada

Foram "anos de sofrimento", segundo Juniti Saito, comandante da Força Aérea Brasileira, mas o governo ao menos valeu-se da delonga para dar um desfecho ponderado a uma negociação nem sempre conduzida pelo prisma técnico.

A escolha do sueco Saab Gripen NG como novo caça padrão da FAB representa não só a opção mais barata mas também a que pode oferecer maiores avanços tecnológicos ao Brasil. Era, conforme revelou a jornalista Eliane Cantanhêde nesta Folha em janeiro de 2010, o modelo mais bem avaliado em análise feita pela Aeronáutica.

Foram preteridos dois concorrentes de peso: o F-18, da americana Boeing, e o Rafale, da francesa Dassault. Diante das propostas iniciais feitas em 2008 --as 36 unidades custariam, respectivamente, US$ 7,5 bilhões e US$ 8 bilhões--, o valor pedido pela Saab constitui inegável pechincha: US$ 4,5 bilhões (eram US$ 6 bilhões), que serão pagos em até 14 anos após a entrega do último avião.

Verdade que contratempos políticos pesaram contra os modelos derrotados. O Rafale, que chegou a ser o preferido no governo Lula, perdeu espaço quando a França, em 2010, não apoiou acordo capitaneado por Brasil e Turquia para a crise nuclear do Irã. Mais recentemente, a Boeing viu suas chances diminuírem com o escândalo de espionagem americana.

Não foi apenas isso, contudo. A principal vantagem que apresentavam na seara militar era, a rigor, um exagero. Dadas as características diplomáticas e geográficas do Brasil, o maior poderio em combates aéreos dificilmente seria empregado. Para as necessidades de vigilância e defesa estratégica, os hoje modernos caças suecos são apropriados --a um custo operacional bem mais baixo, aliás.

Mesmo o atraente pacote comercial e a vasta experiência oferecidos pela Boeing terminaram relativizados pelas promessas de transferência de tecnologia da empresa sueca. Não é trivial dominar técnicas da indústria de ponta, como turbinas supersônicas e manipulação de materiais compostos, com aplicações militares e civis.

Discutida desde os anos 1990 e transformada em pretensão oficial em 2001, a renovação da frota da FAB era uma necessidade inconteste --de resto, o sucateamento de equipamentos militares atinge as Forças Armadas brasileiras como um todo, e não só a Aeronáutica.

É por isso mesmo lamentável que o processo tenha se arrastado por tanto tempo. Em 2016, quando devem ser entregues as primeiras unidades, os caças já não representarão a geração mais avançada.

A novela, de todo modo, não terminou. Para que a escolha se mostre de fato acertada, é preciso haver o teste da realidade. Trata-se, neste caso, não só de conhecer os termos de um contrato ainda longe de ser assinado, mas também de tirar do papel todos os benefícios embutidos nessa negociação.


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