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Opinião

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Aldo Pereira

TENDÊNCIAS/DEBATES

O ASSUNTO DE HOJE É O NATAL

Onde nasceu Jesus?

Certo é que nenhuma escritura atribuída a Paulo menciona nem Belém nem Nazaré. Já os prospectos de turismo...

Para Mateus (2:1) e Lucas (2:6-7) a resposta é peremptória: Belém. Já Marcos omite a Natividade. E em João 7:42, Belém é mera referência contextual. Estes dois últimos dos quatro evangelistas sugerem que Jesus nasceu em Nazaré (Marcos 1:9, 1:24, 6:1, 6:4, 10:47, 14:67 e 16:6; João 1:45""46 e 7:40""44). Atos dos Apóstolos faz referências a "Jesus de Nazaré" e a "Jesus Cristo de Nazaré".

Belém ou Nazaré? Para complicar, há hoje uma cidade chamada Belém em Israel e outra no território árabe que Israel ocupa. Quanto a Nazaré, tempestuosa polêmica.

Nem o Velho Testamento nem a Tanakh (Bíblia judaica) nem o Talmud (compêndio doutrinário que suplementa a Tanakh) mencionam a cidade. A mais antiga referência documental a Nazaré data do século 4. Achados arqueológicos em área geodésica onde ela poderia ter existido antes atestam apenas rústico arraial de lavradores.

Já Belém é histórica. Segundo Lucas 2:1-7, censo decretado pelo imperador Augusto exigia que todos os súditos de Roma deveriam alistar-se, cada um na cidade dos ancestrais. Pelo que José teria de ir de Nazaré "[...] à Cidade de Davi, chamada Belém, porque [José] era da casa e família de Davi [...]".

Contudo, gente prática, aos romanos interessava apenas calcular quanto imposto cada contribuinte poderia pagar. Para isso faziam censos, mas regionais, nunca em todo o império. Muito menos com obrigação de cada contribuinte se alistar na cidade dos antepassados. Nenhum chefe de família precisava sair de onde morasse para declarar seus bens.

Por que então José iria sujeitar Maria, em vésperas de parto, a tão perigosa e incômoda viagem --120 quilômetros a pé ou no lombo de cavalgadura, da Galileia à Judeia? Difícil não ver ficção de propaganda nas genealogias e natividades (criadas pelos mesmos dois autores). Objetivo: credenciar Jesus como o Messias.

Os cognomes hebraicos Mashiach ou Mashiah, e o grego Christos, significam "ungido". Aludem ao rito no qual um sacerdote ou profeta besuntava com azeite a cabeça do líder ao consagrá-lo rei. No messianismo judaico, futuramente Mashiah governará o mundo a partir de Jerusalém. Os primeiros cristãos acreditavam que Jesus iria revelar-se no papel escatológico de Messias a qualquer momento.

Na Judeia então ocupada e governada por romanos, quase todo judeu pertencia a uma seita que era também partido nacionalista: essênios, fariseus, saduceus, zelotes. À margem, crescia petulante grupo de judeus heréticos, os "nazarenos", nome de etimologia não gentílica pelo qual judeus referem os cristãos ainda hoje.

Esses protocatólicos proclamavam que Jesus era o Messias das profecias referidas em Miqueias, Isaías, Zacarias e nos Salmos. Pois ele não era divino (como os milagres atestavam), descendente de Davi e nascido em Belém (como garantiam as genealogias e a Natividade)? Até Jesus acreditava (Mateus 26:64, Marcos 14:62, João 4:26 e João 10:23-25), embora nem sempre confiante (Lucas 22:67-68).

Paulo morreu bem antes de sua seita cristã começar a denominar-se católica (do grego, katholikos, "universal"). Mas já então a linha universalista paulina (Cristo para todos, com dispensa de circuncisão) prevalecera sobre a nacionalista de Pedro (cristianismo apenas para judeus circuncidados).

Paulo vacilava quanto a Parusia, a questão teológica da Segunda Vinda de Jesus: Paulo a presenciaria em vida ou ela se daria apenas em futuro indeterminado? Certo é que nenhuma escritura atribuída a Paulo menciona nem Belém nem Nazaré.

Já prospectos de turismo...


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