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Paula Cesarino Costa

De dia, falta água; de noite, luz

RIO DE JANEIRO - O Carnaval carioca começou no final de semana passado e parece seguir o embalo daquele realizado em 1954. Foi um ano em que vários sambas e marchinhas atacaram mazelas sociais que até hoje dão rima.

"Rio de Janeiro
Cidade que nos seduz
de dia falta água
de noite falta luz".

Poucos lembram a letra completa da marchinha "Vagalume", de Vítor Simon e Fernando Martins. Mas, em quase todo o verão --para não dizer em todos os meses do ano--, os dois últimos versos da estrofe são vivenciados por milhares de moradores.

Foi lançado também em 1954 "Acende a Vela", de Braguinha ("Acende a vela, Iaiá/ que a Light cortou a luz.../ Ó seu inglês da Light/ A coisa não vai all right"), com ironias ao mesmo concessionário de energia que, no domingo passado, acrescentou Ipanema à longa lista de bairros sem energia na cidade.

A Light, gerida atualmente pelo Grupo Cemig, justificou a falta de luz pelo roubo de centenas de metros de cabos. Roubar cabo é mais fácil que tirar copo da mão de bêbado?

As marchinhas antigas falavam de panela vazia ou cantavam "falta isso, falta aquilo", "falta de tudo na vida". As de hoje são pouco conhecidas e divulgadas. Já os sambas-enredos esquecem a vida real. Despolitizados e desvinculados da realidade, preferem exaltar personalidades, patrocinadores ou falar das belezas naturais. Apenas o samba da São Clemente -- "Favela"-- pede "justiça para poder viver".

Muita coisa mudou, a falta de comida não é o maior problema, políticos se alternaram no poder, privatizações foram feitas, os sambas andam mais rápido e têm versos insólitos. Soa incompreensível como um samba-enredo que, num país rico em água e com variada matriz energética, a segunda maior cidade ainda cante uma rima antiga de 60 anos.


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