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Mauricio Tolmasquim
O país tomou medidas para evitar um novo apagão?
SIM
Margem de segurança
É inegável que o setor elétrico brasileiro enfrenta uma conjuntura climatológica adversa.
No Sudeste --a "caixa d'água" do sistema--, as vazões (entrada de água nas hidrelétricas) em janeiro foram metade da média histórica. Em fevereiro, até agora, estão a um terço do esperado para o mês. É a terceira pior hidrologia do histórico de mais de 80 anos! Mesmo assim, pode-se afirmar que não haverá racionamento neste ano.
Não se deve confundir racionamento de energia com as solicitações que têm desafiado o sistema, que são devidas a picos no consumo. Houve significativo aumento da demanda de ponta (período de maior consumo do dia), em razão das elevadas temperaturas e dos baixos índices pluviométricos.
Mesmo assim, o sistema tem se mostrado capaz de atender a essa demanda conjunturalmente elevada. De fato, os padrões de segurança têm sido atendidos tanto nas grandes interligações quanto na malha intrarregional, mesmo em face dos recordes de demanda máxima.
A afirmação de que não haverá racionamento neste ano não é gratuita nem mero discurso oficial. Embasam-na análises técnicas. Simulações da operação do sistema demonstram que não haverá racionamento em 2014 mesmo que ocorra a pior série de vazões registrada no histórico dos últimos 82 anos.
Em termos probabilísticos, para um risco de deficit de 5%, as simulações indicam uma sobra de energia superior a 6.000 MW médios, o correspondente a 9% do consumo. Em cenário ainda mais rigoroso, risco de 1%, as simulações confirmam que há uma sobra estrutural de energia no sistema.
O sistema elétrico brasileiro está hoje estruturalmente equilibrado, devido ao planejamento setorial e à realização sistemática dos leilões de expansão da oferta, inclusive leilões de reserva, idealizados justamente para ampliar a capacidade do sistema de enfrentar situações adversas, como, por exemplo, atrasos de obras. Todo esse processo tem viabilizado os investimentos necessários ao atendimento da demanda.
Além disso, com o novo modelo do setor elétrico, criou-se o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), cuja função é acompanhar e avaliar permanentemente a continuidade e a segurança do suprimento de energia em todo o país.
Esse monitoramento proativo permite ajustar, revisar e adotar novas ações de operação do sistema elétrico de modo a assegurar o adequado atendimento à população.
Desde 2001, período do racionamento, o crescimento da capacidade instalada foi 43% superior ao crescimento do consumo. Para efeitos de comparação: do final de 1995 até o ano 2000 (antes do racionamento), o crescimento da capacidade instalada em usinas de geração de energia elétrica foi 7% inferior ao crescimento do consumo.
Hoje são 127 mil MW instalados. A capacidade de intercâmbio de energia duplicou entre o Sul e o Sudeste e os limites de transferência para o Nordeste ampliaram-se duas vezes e meia. São 116 mil quilômetros de linhas de alta tensão.
Para enfrentar a redução na capacidade de acumulação dos reservatórios, a proporção de térmicas no sistema dobrou desde 2001. Hoje, cerca de 30% da capacidade do sistema está instalada em usinas térmicas. Por óbvio, isso tem um custo. Mas a contrapartida é a segurança energética do Brasil.
Há 13 anos, uma situação climática parecida com a atual, associada à falta de planejamento e à limitada expansão da capacidade instalada, em especial de termelétricas, levou ao racionamento. Hoje isso não ocorrerá.