Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Opinião

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

João Wainer

'Dois Mil e Catarse'

O discurso em que Gabriel García Márquez afirmou que o realismo mágico não é nada ante a realidade da América Latina nunca fez tanto sentido. Enquanto Manoel Carlos sua para construir uma história de ficção para a novela, a realidade dá um banho e transforma o biênio 2013/2014 em um dos mais surreais da história recente do Brasil.

Daria um filme. O povo vai em peso para as ruas durante a Copa das Confederações, balança as estruturas e quase provoca mudanças significativas na sociedade. Bate na trave, recolhe-se, assiste aos que continuam protestando e espera a faísca que os fará voltar à rua.

Esse seria o prólogo do filme ambientado em 2014, ano de Copa do Mundo e de eleição presidencial, combinação tão perfeita e explosiva que nem o mais criativo dos roteiristas de Hollywood poderia ter escrito.

O clima é tenso. Em cenas no estilo de "Um Dia de Fúria", usuários do metrô se revoltam por um problema técnico e destroem o que encontram pela frente, mostrando uma impaciência com os serviços públicos nunca antes vista na história do país. Ônibus são queimados quase diariamente numa contagem regressiva pirotécnica para o jogo de estreia da Copa, Brasil contra Croácia.

Notícias que parecem saídas da ficção surgem quase todos os dias. O Batman aparece no Leblon, um cineasta é morto a facadas pelo filho, uma ex-vedete é enterrada de maiô e fantasiada aos 93 anos e em uma cadeia do Maranhão presos aparecem felizes segurando a cabeça de seus desafetos.

Para piorar, a trama é ambientada no período mais quente dos últimos 40 anos sob a ameaça de apagão e racionamento de água. Os ânimos se acirram e o espectador gruda na cadeira.

A sequência de ação no hotel da Augusta, em que o policial entorta a porradas o pino de titânio da prótese dentária de um rapaz, é digna de Tarantino, e a morte do cinegrafista Santiago Andrade, filmada por vários ângulos, faria do filme candidato ao Oscar de efeitos especiais. O prêmio de melhor ator/atriz seria o mais concorrido. Não faltam bons candidatos com atuações brilhantes.

Nos palácios, os governantes não sabem como agir e os políticos estudam formas de tirar proveito das manifestações nas eleições para governo estadual, Senado e Presidência. O clima é de "House of Cards". Os cargos mais importantes do país estão em aberto. Se tudo pode acontecer em qualquer eleição, imagine nesta.

O roteiro se constrói a cada dia. Qualquer movimento pode ser decisivo para o futuro do país. Todos os elementos para um "grand finale" estão presentes, os olhos do mundo estão fixados na tela para ver como um país decide seu futuro com uma bola no pé e uma pedra na mão. O filme é bom, mas o final pode ser trágico.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página