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Opinião

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Kenneth Maxwell

'Terra feliz'

Norman Gall é um sujeito um tanto rabugento. Eu o conheci na Woodrow Wilson School, na Universidade Princeton, em 1972. Eu fazia parte do Instituto de Estudos Avançados e estava apresentando uma série de estatísticas sobre o comércio de escravos e açúcar no Atlântico ao longo de 300 anos. Mas, em 1974, a revolução portuguesa interveio e tomei outro caminho. Encontrei-me com Gall diversas vezes em Nova York, na metade dos anos 70.

Defino-o como rabugento porque sempre que almoçávamos, ele, invariavelmente, arranjava briga com o garçom.

Gall tem hoje 80 anos. Mudou-se para São Paulo em 1977 e estabeleceu o Instituto Braudel em 1987. Fernand Braudel (1902-1985) foi um dos acadêmicos franceses que fundaram a Universidade de São Paulo, entre 1935 e 1937.

O trabalho dele unia seu interesse pelas tendências de desenvolvimento histórico no longo prazo a microestudos sobre pessoas comuns. Braudel foi prisioneiro de guerra na Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial e, no final dos anos 40, em companhia de Lucien Febvre (1878-1956), estabeleceu em Paris a escola dos "Annales", que influenciou profundamente gerações de historiadores.

Norman Gall também é um pesquisador à moda antiga, ou seja, um jornalista que acredita na saída a campo para ver o mundo real. Esteve sempre interessado no contexto histórico dos eventos. Sua escrita ao longo dos anos combinava reportagem detalhada com questões mais profundas sobre significado.

Assim, o que ele tem a dizer sobre o Brasil em seu mais recente "Braudel Paper" (leia o documento em bit.ly/braudel paper) é de um interesse mais do que passageiro --ainda que talvez não seja especialmente palatável aos brasileiros, especialmente na véspera das festividades do Carnaval.

O ano de 2014 será emblemático para o país. Mas Gall adverte que "o Brasil é uma terra feliz porque já teve muitas chances", o que levou a uma tolerância quanto aos repetidos fracassos e produziu um atoleiro institucional, que --se não for enfrentado-- resultará em depreciação da qualidade da vida cotidiana, com a proliferação da violência e deterioração continuada da infraestrutura e das capacidades necessárias para administrar uma sociedade complexa e de escala continental.

Ele vê corrupção endêmica, uma liderança política que personifica o triunfo do localismo, parasitismo fiscal, inflação em disparada, rigidez institucional nos mercados de trabalho e produtividade estagnada.

O Brasil precisa urgentemente de uma nova estratégia, argumenta Gall: "Aprender mais e fazer mais". Um conselho rabugento de um amigo muito bem informado.


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