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Paula Cesarino Costa

Se não houver Carnaval

RIO DE JANEIRO - Um motorista bêbado atropela um grupo que estava pulando em bloco na Vila Madalena, em São Paulo; valentões bêbados trocam socos e pontapés no meio de milhares de participantes de um bloco no centro do Rio; governador e pré-candidato à Presidência recebem vaias ao serem anunciados no maior bloco de Maceió, Alagoas. É o clima do país do Carnaval.

Nem faz dez anos que muito se reclamava de que os blocos de rua tinham desaparecido e de que o Carnaval no Rio havia se elitizado ao ficar restrito ao Sambódromo, com seus caros 60 mil lugares (hoje são 72 mil).

Pouco a pouco, de modo desordenado, mas espontâneo, os blocos foram reaparecendo aqui e ali. Pequenos grupos se multiplicaram como multidão e tomaram a cidade.

O poder público apareceu para organizar o que nasceu para não ter organização --e para perder, ano a ano, a corrida por instalar banheiros suficientes para aliviar os corpos e recolher os restos deixados no chão.

Bastou para que a cidade se dividisse também a respeito do Carnaval. De um lado, milhares que se divertiam de graça, sem corda nem regulamento, com nostalgia da inocência de festejos antigos. Do outro lado da calçada, os que reclamavam do trânsito tornado caótico, do xixi nas ruas, rasgando a fantasia da cidade cordial. No meio, um monte de gente cantando e dançando feliz.

Amplia-se o coro de quem não quer ser "atrapalhado" por semelhantes que, rindo à toa, cantam desafinados um país idílico, usando roupa do sexo oposto, jogando confete, serpentina e espuma branca. Incomodados, que sonham em transportar-se para um ano sem Carnaval.

Pois aconteceu em 1894. Machado de Assis assim o descreveu: "Quando eu li que este ano não pode haver Carnaval na rua, fiquei mortalmente triste. É crença minha, que no dia em que o deus Momo for de todo exilado deste mundo, o mundo acaba".


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