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O texto abaixo contém um Erramos, clique aqui para conferir a correção na versão eletrônica da Folha de S.Paulo.

Kenneth Maxwell

Carnaval

No ano de 1966, eu vivia com meu namorado, Carlos Alberto, um carioca negro, na rua Rainha Elizabeth, na esquina da avenida Nossa Senhora de Copacabana, perto da praia no Posto 6.

Era minha segunda estada no Rio de Janeiro. Aluguei o apartamento na Rainha Elizabeth porque ficava perto de onde morava Júlio, por quem eu havia me apaixonado profundamente no ano anterior.

Júlio era um estudante da Bahia que vivia em uma cobertura em frente ao Posto 6 com um empresário europeu muito mais velho. Conheci Carlos Alberto em uma noite em que Júlio e eu estávamos fazendo uma caminhada, ou melhor, um "footing" pela avenida Nossa Senhora de Copacabana, uma prática comum na época.

O empresário europeu se sentia muito desconfortável na companhia de Carlos Alberto e, por isso, pouco vi Júlio dali por diante.

Carlos Alberto era um jovem muito decente. Fui com ele ao Carnaval de 1967. Fomos ao "Baile dos Enxutos", no Cine São José, na praça Tiradentes, no centro do Rio, ainda que entre nós usássemos o termo "entendidos".

A canção do Carnaval daquele ano era a marcha-rancho "Máscara Negra", de Zé Keti: "Quanto riso, ó, quanta alegria/ Mais de mil palhaços no salão/ Arlequim está chorando pelo amor da Colombina/ No meio da multidão".

E continua assim: "Foi bom te ver outra vez/ Está fazendo um ano/ Foi no Carnaval que passou/ Eu sou aquele pierrô/ Que te abraçou/ Que te beijou, meu amor".

(Quem quiser ouvir as marchinhas de Zé Keti e conhecer as suas letras poderá acessá-las em bit.ly/musicaszeketi).

Foi no baile que vi Gil pela primeira vez. Ele era do Cantagalo, descendente de colonos suíços trazidos ao Brasil por dom João 6º entre 1819 e 1820. Tinha longos cabelos loiros e fortes mãos camponesas. Mudamo-nos para um apartamento na esquina da avenida Nossa Senhora de Copacabana com a rua Figueiredo Magalhães.

Zé Keti trocou o Rio de Janeiro por São Paulo nos anos 80. As marchinhas desapareceram. Os direitos autorais se tornaram caros demais. Mas a reputação de Zé Keti foi restaurada quando ele voltou ao Rio, nos anos 90. O velho Cine São José foi demolido. Não voltei ao Brasil até 1977. Nunca mais vi Júlio, Carlos Alberto ou Gil.

Mas Gil me levou ao Aragon, o navio no qual parti do Rio de Janeiro para Lisboa em outubro de 1967. Ele me deu um exemplar de "Os Sertões: Campanha de Canudos", de Euclydes da Cunha, a segunda edição corrigida publicada pela editora Laemmert, no Rio de Janeiro, em 1903.

Euclydes da Cunha nasceu no Cantagalo em 1866.


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