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Opinião

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Ivo Herzog

TENDÊNCIAS/DEBATES

Facetas da resistência

Preocupa-nos a insinuação de que haja partidarismo no Instituto Vladimir Herzog. Levamos as críticas a sério, mas pedimos seriedade

Foi com muita surpresa e certa preocupação que recebemos os comentários de Ferreira Gullar sobre a exposição "Resistir É Preciso" (em sua coluna no último domingo, "Resistência à ditadura"). E por quê?

Esse projeto nasceu há três anos com o objetivo de resgatar a história da imprensa alternativa e sua luta de resistência contra a ditadura no período de 1964 a 1985.

Naturalmente, o foco escolhido pelo Instituto Vladimir Herzog, coorganizador da mostra ao lado do Ministério da Cultura, foi o jornalismo --profissão por meio da qual Herzog lutou contra o regime militar e que é considerada o quarto poder em nações democráticas no mundo todo. Comentários sobre a falta de reconhecimento do teatro, da música e de personagens não ligados ao jornalismo mostram desatenção ao conteúdo exposto.

Ademais, ao contrário do que diz Ferreira Gullar, o show "Opinião" aparece com destaque no painel do ano de 1964, bem como a referência a "Arena Canta Zumbi" (1965) e a "Se Correr o Bicho Pega, se Ficar o Bicho Come" (1966).

Esse é apenas um dos projetos do Instituto Vladimir Herzog. Nosso trabalho pelo resgate da história recente do Brasil busca mostrar a importância de manifestações culturais em geral para a resistência.

O instituto já promoveu uma mostra de cinema documentário com 39 filmes dentro do tema Memória e Verdade e concertos para mais de 7.000 pessoas com enredo ligado à democracia, educação e memória. Está planejado para outubro de 2014 mais um concerto, que mostrará o papel das mulheres no processo de luta pela anistia e democracia.

O projeto "Resistir É Preciso" tem como tema central o papel dos jornalistas da imprensa nanica (alternativa) nesse processo. Ainda neste mês, irá ao ar uma série de dez documentários desse projeto.

Porém, preocupa-nos mesmo a insinuação de Gullar sobre o partidarismo no Instituto Vladimir Herzog a partir do que ele viu na exposição, citando a figura de Lula. Exibir o retrato do ex-presidente publicado originalmente pelo jornal "Movimento" justifica-se plenamente. Naquele momento, Lula estava preso e vivíamos as greves no ABC, que foram um duro golpe à ditadura.

A exposição apresenta dezenas de capas de jornais alternativos, cartazes dos movimentos de resistência e depoimentos em vídeo de inúmeros personagens. Por exemplo, Miguel Arraes --que Gullar diz ter sido preterido-- aparece em mais de um jornal e cartaz. Estão lá também Tancredo Neves, Franco Montoro, João Figueiredo, Brizola e, este sim com ênfase, Vladimir Herzog.

A exposição poderia até ser acusada de enaltecer o Partido Comunista Brasileiro devido à militância de Vladimir Herzog, o que não é o caso e não deve ter sido foco de Ferreira Gullar pela importância deste partido versus o PT no atual contexto político brasileiro.

Jamais uma mostra sobre a resistência acentuou tanto seu componente cultural. Claro que não falamos de Ferreira Gullar, e ele poderia até ter sido citado. Merece. Mas há outros que também mereceriam e lá não estão. A mostra, afinal, não é uma enciclopédia.

Para garantir ao máximo que todos os grupos que lutavam contra a ditadura estivessem representados no projeto de forma equilibrada, a curadoria foi desenvolvida por três especialistas --cada um com uma visão partidária particular e irrelevante para os nossos projetos.

Somos uma instituição nova e que tem muito a aprender. Levamos muito a sério as críticas que nos fazem. Mas pedimos seriedade e atenção.


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