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Opinião

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Fernando de Holanda Barbosa Filho

TENDÊNCIAS/DEBATES

Ritual de credibilidade

No curto prazo, será impossível trazer a inflação para o centro da meta sem uma recessão que desaqueça o mercado de trabalho

Nos últimos anos, a economia brasileira cresceu em ritmo baixo. A expansão do PIB em 2011 foi de 2,7%. Em 2012, cresceu 0,9% e 2,3% em 2013. A despeito desse fraco desempenho, a inflação ficou em 6,5%, 5,84% e 5,91%, respectivamente. É preciso refletir sobre os motivos que levaram o país a essa combinação perversa de baixo crescimento e inflação elevada.

A principal razão é a associação de pleno emprego e perda de produtividade. Os trabalhadores conseguiram aumentos reais sucessivos de salários que não foram acompanhados por ganhos de produtividade. Esse resultado foi possível devido a dois fatores: mudanças dos termos de trocas favorável ao setor de serviços e o efeito demográfico.

A mudança nos termos de troca favoreceu o setor de serviços, que cresceu em ritmo superior ao da indústria e, intensivo em mão de obra, gerou uma demanda de trabalho que a demografia não podia suprir.

O mercado de trabalho em pleno emprego implicou em elevação do custo unitário do trabalho (razão entre o salário e a produtividade do trabalhador) para toda a economia, inclusive para o setor industrial, pressionando os preços. O baixo crescimento da economia tem sido inflacionário porque o crescimento do produto potencial (capacidade de crescer sem pressionar a inflação) despencou nos últimos anos.

Primeiro, a expansão do emprego será menor no futuro devido ao menor crescimento populacional (demografia) e à baixa taxa de desemprego. Ou seja, não devemos esperar expansões sucessivas do fator trabalho (o emprego) a taxas superiores a 1,2%, muito menos aos 2% da última década.

Nesse cenário, a produtividade ganha mais importância, sendo o principal fator para possibilitar um crescimento acelerado da economia. No entanto, no momento em que o fator trabalho reduziu a sua expansão, a produtividade não contribuiu para elevar a taxa de crescimento. Pelo contrário, o ritmo de crescimento da produtividade despencou. Dessa forma, o país cresce pouco e a inflação continua acima do centro da meta.

Para piorar, em vez de elevar a taxa de juros e reduzir a inflação, o governo federal manteve juros abaixo do patamar que reduziria a taxa de inflação e passou a represar preços administrados (da gasolina e da energia, por exemplo).

Nesse cenário, no curto prazo, é impossível trazer a inflação para o centro da meta sem ocasionar uma recessão que desaqueça o mercado de trabalho, visto que a inflação no setor de serviços foi de 8,4% em 2013.

O governo deveria liberar os preços represados e deixar a política monetária atuar (com juros mais altos para reduzir a inflação). É preciso atuar como manda o sistema de metas de inflação, elevando o juros quando a inflação fica acima da meta e reduzindo caso contrário. Esse ritual é fundamental para a credibilidade da política monetária.

Com efeito, um Banco Central com reputação é capaz de combater a inflação com custo social mais baixo. No entanto, não se espera que o Banco Central procure atingir o centro da meta neste ano de eleição presidencial.

Dessa forma, se o Brasil quiser combinar inflação no centro da meta com pleno emprego, só o alcançará no longo prazo.


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