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Santos de além-mar

No final do século 19, o padre cearense Cícero Romão Batista (1844-1934) foi punido pelo Vaticano por insistir em que uma beata de sua Juazeiro do Norte transformava hóstia em sangue de Jesus Cristo. "Nosso Senhor não deixa a França para obrar milagres no Brasil", disse à época um sacerdote europeu que vivia em Fortaleza.

Oitenta anos após a morte de Cícero, que acabou excomungado, o Vaticano canonizou, na última quinta-feira, o terceiro santo que viveu em terras brasileiras: o jesuíta José de Anchieta (1534-1597).

Nascido na Espanha, Anchieta chegou à incipiente colônia portuguesa aos 19 anos, onde se notabilizou pela catequização de indígenas. Entre seus muitos feitos, participou da fundação do Colégio de São Paulo de Piratininga, em 1554, no centro da atual capital paulista.

Mas, à diferença de madre Paulina (1865-1942) e de frei Galvão (1739-1822), padre Anchieta não teve dois milagres comprovados; sua canonização veio graças a um decreto do papa Francisco --um recordista na "promoção" de santos.

O processo resultou de pedido que o presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), dom Raymundo Damasceno, fez ao papa durante visita de Francisco a Aparecida (180 km de São Paulo), em julho de 2013, conforme noticiado pela revista "Veja".

A diferença nos tratamentos do padre Cícero e da canonização do padre Anchieta mostra expressivas mudanças no Vaticano nas últimas décadas --período curto para uma instituição como a Igreja Católica.

Se, no século 19, Cícero viajou a Roma para tentar, em vão, convencer o papa Leão 13 sobre o milagre de Juazeiro, agora a solicitação atendida se deu em solo brasileiro.

Com o primeiro papa latino-americano da história, são claros os sinais de que a igreja reorienta sua prioridade para fora da Europa. O movimento deve favorecer até Cícero. Tramita, no Vaticano, um processo para reabilitar o religioso cearense. A iniciativa é promovida pelo papa Bento 16 e conta com o apoio maciço da CNBB.

Em quantidade de santos, o Brasil, país de maior população católica no mundo, dificilmente alcançará a Itália, que conta seus canonizados às centenas. Mas o Vaticano, talvez tardiamente, percebeu que a sobrevivência e o avanço do catolicismo dependem de mais gestos simbólicos para cativar os fiéis de além-mar.


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