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Opinião

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Kenneth Maxwell

Lisboa, 1964

Neste ano, minha primeira visita a Lisboa completou cinco décadas. Certifiquei-me dessa informação ao verificar meu velho passaporte. Ele foi emitido em 1955, quando visitei o litoral sul da França em uma viagem da escola.

Ficamos em Cannes, na Côte d'Azur. A foto do passaporte me mostra aos 14 anos.

Como meu passaporte valia por dez anos, foi com o mesmo documento -e foto- que ingressei em Portugal em 1º de março de 1964. Cheguei de Madri pelo trem noturno, o Expresso Lusitano, e desembarquei na estação de Santa Apolónia, em Lisboa.

Caminhei pela beira do rio Tejo, passando por uma frota de barcos de madeira com altas velas brancas que se preparavam para a pesca do dia. Perguntei a um guarda que estava de pé em sua guarita ao lado da estátua de dom José 1º, no centro da praça do Comércio, onde eu poderia encontrar acomodações. Ele apontou para o norte.

Caminhei pela praça do Rossio e depois subi a avenida da Liberdade em direção à estátua do marquês de Pombal, que reconstruiu Lisboa depois do grande terremoto de 1755 -não que eu soubesse, naquela época, quem de fato era Pombal.

Em 1964, havia na verdade pouquíssima "liberdade" em Portugal, que se encontrava sob governo do ditador António de Oliveira Salazar (1889-1970).

Encontrei uma pensão para me hospedar na rua Rodrigo da Fonseca. O problema que eu enfrentava naqueles dias era que ninguém falava com estrangeiros. Então coloquei um anúncio no jornal "Diário de Notícias" procurando por estudantes que desejassem trocar aulas de inglês por aulas de português. Para minha surpresa, recebi centenas de respostas.

Depois recebi uma carta do doutor Ayala Monteiro, da Fundação Calouste Gulbenkian. Desconfiei que meu orientador, Harry Hinsley, no St. Johns College, da Universidade de Cambridge, tivesse feito contato com ele. (Descobri anos mais tarde que Hinsley havia sido uma figura-chave em Bletchley Park -conhecido como estação X-, o centro de espionagem e de decifração de códigos do governo britânico durante a Segunda Guerra Mundial.)

O doutor Ayala Monteiro me perguntou se eu teria interesse em uma bolsa de estudos. Até então, eu estava ganhando a vida com as colunas que escrevia ocasionalmente para um jornal regional em inglês.

Quando lhe enviei minha solicitação, ele riu. "Ninguém poderia viver com tão pouco dinheiro!", ele exclamou. O doutor Ayala Monteiro, então, montou um orçamento para mim. Pelo resto da minha estada em Lisboa, recebi um cheque muito bem-vindo no final de cada mês.


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