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Paula Cesarino Costa
Imagina na Olimpíada
RIO DE JANEIRO - A cena tinha algo de exagero. Presidente, governador e prefeito, entre outros engravatados, pulando e gritando para comemorar, como se fosse um gol, a escolha do Rio para sediar a Olimpíada de 2016. Depois do anúncio, em Copenhague, o então presidente Lula chorou e disse: "Quebramos o último preconceito. Provamos que temos competência para fazer a Olimpíada". Era outubro de 2009.
De lá para cá, o prefeito da cidade, Eduardo Paes (PMDB), usou e abusou do argumento dos Jogos Olímpicos para arrebatar verbas federais, transformar a cidade em um canteiro de obras, fazer promessas e pedir paciência à população.
O sucesso na estratégia deixou o discurso de Paes como favorito à medalha de ouro da arrogância: "Os urubus vão se frustrar"; "Barcelona vai ficar no chinelo"; "Meu poder é total, aqui não vai ter gracinha" e "O importante na Olimpíada sou eu".
Depois de constantes alertas de que o tempo estava passando e cobranças de definições, o COI (Comitê Olímpico Internacional) decidiu por uma intervenção. Já se sabe que o custo vai passar de R$ 37 bilhões. O legado ainda é uma incógnita.
Os projetos de transporte (metrô, veículo leve sobre trilhos e sistemas rápidos de ônibus) saíram do papel, abarrotaram a cidade de tapumes e parecem estar encaminhados. Não é pouco, mas insuficiente.
As instalações propriamente olímpicas patinam na indefinição e na incompetência. A cidade optou por ter dois parques olímpicos, mas até agora está sem nenhum. Um deles ainda nem saiu do papel e outro está atrasado e com as obras paradas há dias por causa da greve dos operários.
O prefeito avisou: "Vamos sofrer até o último dia da Olimpíada". A cidade será outra depois de 2016. Não se sabe a que custo. Antes vai haver a Copa, que não tem sido exatamente um exemplo de competência. Imagina até a Olimpíada como será.