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Igor Gielow

54 anos

BRASÍLIA - Na quarta passada, um passageiro do recém-lançado voo Paris-Brasília me perguntou como era morar na capital. "OK", foi o melhor que tirei do torpor da viagem diurna, matando ali a conversa.

Algumas horas depois, enfrentando o caos para recolher a bagagem, o prédio ainda em reformas sem sinalização alguma e uma obra viária caótica no entorno do aeroporto que acabara de receber elogiosa visita presidencial, fiquei tentado a relativizar minha resposta.

Pensando bem, talvez "OK" esteja de bom tamanho. A cidade que hoje faz 54 anos não é o paraíso que seus apologistas apregoam, nem tampouco o inferno erguido no cerrado.

Como todo símbolo, Brasília convida a generalizações. O brasileiro adora falar mal da cidade, como se o patrimonialismo atávico (da classe política ou de nativos loucos por uma boquinha pública) e a jequice não fossem meramente uma hipérbole do que acontece Estados afora.

Seu caráter insular, claro, piora as coisas. O mais novo marco local, o Estádio Nacional Mané Garrincha ("Elefantão" para os íntimos) é um bom exemplo. Obra dispendiosa, alvo de todo tipo de suspeita de malversação, está fadada à subutilização no futuro próximo. Grandiosa e perdulária, como Brasília.

Museu de um futuro que nunca veio, a capital fracassou do ponto de vista urbanístico. O unitarismo utópico da dupla Costa/Niemeyer é disfuncional, assim como a ideologia que o orientou --a senilidade precoce da cidade salta aos olhos.

Isso dito, até pelo artificialismo, a qualidade de vida dos afortunados da cidade é acima da média. Para aqueles extramuros, miséria é a mesma aqui ou em São Paulo. O resto é elogio a belos palácios, ao horizonte infinito, ao céu incandescente.

Na quarta, só havia 122 almas num enorme Boeing-777 de 309 lugares. A sensação era de um vazio agradável, mas com duvidoso custo de manutenção. Como o seu destino final.


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