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Marconi Perillo

As andorinhas voltaram

É preciso incentivar a atividade de migrantes que voltam ao Brasil, com uso do conhecimento e capital que acumularam lá fora

MARCONI PERILLO

Nos anos 1980 e no começo dos 1990, desalentados pela crise econômica e a falta de perspectivas, brasileiros emigraram em massa para o chamado Primeiro Mundo. Ficaram famosas as histórias de cidades como Governador Valadares (MG), que transferiram para os Estados Unidos grande parte de sua população, ou a dos descendentes de japoneses que voltavam para trabalhar na terra de seus ancestrais.

Vários desses migrantes voltavam com histórias de sucesso, alguns amargavam derrotas, muitos jamais voltaram. Firmaram-se verdadeiras colônias brasileiras em cidades como Lisboa, Madri e Boston --onde há até mesmo supermercados brasileiros e missas em português.

Com a crise global de 2008 e a recessão nos países ricos, esse fluxo começou a se reverter. Muitos brasileiros emigrados passaram a antecipar o sonho de voltar para casa. No regresso, são confrontados com a questão de como aplicar a poupança acumulada a duras penas no exterior de forma a garantir que seus filhos e netos não precisem, eles mesmos, deixar o país no futuro.

Ninguém sabe ao certo quantos são esses residentes no exterior. Estimativas informais do Ministério das Relações Exteriores já colocaram o número na casa dos 3,7 milhões. O Censo de 2010 do IBGE estimou-os em cerca de 500 mil. Esta conta, porém, provavelmente não captou o contingente de irregulares, uma população vulnerável e frequentemente temerosa até mesmo do contato com os consulados brasileiros.

Embora São Paulo seja a principal origem de emigrantes (21,6% do total, ainda segundo o IBGE) e Goiás a quarta, com 7,2%, meu Estado computa o maior número de emigrados em relação à população, já que temos 6,5 milhões de habitantes. Trata-se de um contingente de peso considerável na economia, em especial na local. As remessas anuais de divisas desses goianos expatriados já chegaram a R$ 1 bilhão.

Essa cifra e seu potencial efeito multiplicador chamaram a atenção do governo do Estado. No ano passado, inauguramos em Goiás o primeiro serviço de apoio aos emigrados e a suas famílias no Brasil. Batizado Projeto Andorinhas e realizado em parceria com o Banco do Brasil e o Sebrae, esse serviço consiste em orientar o trabalhador brasileiro no exterior a planejar financeiramente seu retorno.

A primeira rodada aconteceu em setembro, em reuniões com líderes de comunidades brasileiras em igrejas de cidades americanas como Dallas, Austin, San Francisco e Atlanta, que concentram os maiores contingentes de goianos. A segunda ocorrerá em setembro próximo, com apoio do Ministério das Relações Exteriores. Durante as reuniões, os representantes do governo de Goiás apresentaram aos migrantes um portfólio de serviços disponíveis antes e depois do retorno.

Entre eles estão a abertura de empresas em 48 horas, o crédito com condições especiais para o microinvestidor e a Bolsa-Futuro, um programa de formação no qual parentes dos emigrados aprendem profissões. O Sebrae, que identifica nos emigrantes a mesma disposição a correr riscos que move os empreendedores em geral, orienta-os na abertura de negócios. O Banco do Brasil instrui os expatriados sobre como remeter dinheiro para o país em caixas eletrônicos. Apesar de simples, essa é uma orientação importantíssima, já que muitos migrantes ainda entregam dinheiro vivo na mão de amigos e parentes.

O Andorinhas está longe de ser uma ação de governo sofisticada. Trata-se simplesmente de dar a uma parcela numérica e economicamente importante da população uma interlocução com o Estado --algo especialmente importante para os imigrantes em situação irregular.

Acreditamos que, ao fazer isso, cumprimos o dever de levar a cidadania aonde quer que esteja o cidadão, dando ao emigrante um motivo a mais para confiar em seu país. Mas, mais do que isso, apostamos no espírito de pioneirismo dessas pessoas e na sua inconformidade com o status quo para fazer girar a economia, com o conhecimento e o capital que acumularam lá fora.


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