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Opinião

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Hélio Schwartsman

Turba ignara

SÃO PAULO - Na versão alarmista, alardeada tanto por representantes mais entusiasmados da esquerda como da direita, as instituições estão em frangalhos, e a multidão, desesperançada e acuada, decidiu fazer justiça com as próprias mãos, daí a súbita explosão de linchamentos e outros crimes bárbaros.

Como sempre, a realidade tende a ser um pouco mais complexa e menos dramática. Quem se der ao trabalho de olhar os números sobre linchamentos que o Núcleo de Estudos da Violência da USP compilou a partir de notícias publicadas na imprensa, constatará que eles sempre ocorreram. De 1980 a 2006, foram 1.179 casos, com pico de 148 ocorrências (1996) e vale de 9 (2006). Este ano de 2014, portanto, não parece constituir um ponto fora da curva.

O otimista pode regozijar-se com o fato de que as instituições não estão ruindo, mas o pessimista pode retrucar maldizendo a natureza humana. É difícil, afinal, ver algo de positivo em turbas ignaras tirando a vida de seres humanos.

E essa é de fato a grande questão. A menos que imaginemos que esses bandos de justiceiros são compostos exclusivamente por monstros, o que leva uma pessoa comum a participar de um linchamento?

A resposta está nas dinâmicas de grupo. Se há uma coisa que assusta são os achados da psicologia social nas últimas décadas. Eles mostram que, sob um mínimo de pressão dos pares, indivíduos normais e mentalmente saudáveis são capazes de quase tudo, desde dar respostas obviamente erradas a um problema estupidamente banal (experimentos de Solomon Asch) até desferir choques que acreditam serem fatais em semelhantes (Stanley Milgram) ou mesmo submetê-los pessoalmente a maus- -tratos (Phil Zimbardo).

Para não terminar a coluna de modo tão depressivo, lembro que algumas de nossas melhores realizações, como a ciência e as artes, também se fundam em interações de grupo.


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