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Ruy Castro

Legado de silêncio

RIO DE JANEIRO - Quem ainda se interessa pela música brasileira do século 20 deve se apressar. Em breve, no lugar dos sambas (rasgados, românticos, de breque, de enredo, de bossa), marchinhas (de Carnaval, juninas, de Natal), choros, modinhas, dobrados, canções, frevos, polcas, valsas, toadas, foxes, baiões, xaxados e até iê-iê-iês através dos quais se pode contar a história do Brasil, só restará o silêncio. As multinacionais que dominam a indústria fonográfica brasileira decretaram que assim será.

Talvez não o façam por estratégia (o que seria gravíssimo), mas por desconhecimento. Para os jovens executivos brasileiros das gravadoras, Noel Rosa está soterrado por várias camadas geológicas e Ary Barroso é anterior ao Big Bang. Sob a pressão de "metas" a cumprir e contas a prestar à matriz francesa (Universal), americana (Warner) ou japonesa (Sony), sua política é a de dedicar-se apenas ao que de pior se produz e mais rápido se vende.

Até os anos 70, essas empresas ainda mantinham seus antigos catálogos circulando, em LPs a preços populares. E, na transição para o CD, por volta de 1990, foram tais preciosidades que ajudaram a vender os novos aparelhos para uma faixa mais velha, a única então capaz de adquiri-los. Mas há muito não têm tempo para se ocupar do legado musical do país que lhes ofereceu, durante décadas, um mercado de milhões.

Nos últimos anos, graças à luta e ao empenho junto a elas de colecionadores e produtores independentes, como Rodrigo Faour, Marcelo Fróes, Omar Jubran, Ronaldo Bastos, Charles Gavin e Leon Barg, foi possível salvar milhares de grandes discos que, de outra forma, nunca mais seriam relançados. Mas até quando?

As múltis fariam bonito se cedessem ao Brasil os direitos sobre seus fonogramas gravados aqui de 1902 a 1960. Fonogramas estes que elas só veem como um estorvo.


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