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Hélio Schwartsman

Fator 17

SÃO PAULO - De uns anos para cá, cientistas começaram a testar e medir o efeito da ideologia sobre nossas crenças e ações. O quadro que emerge dessa linha de pesquisa não é dos mais animadores para aqueles que acreditam em objetividade.

Um elegante experimento de Dan Kahan, ao qual já aludi neste espaço, mostra que as preferências políticas de um indivíduo afetam até sua capacidade de fazer cálculos matemáticos, que deveria ser o esteio da racionalidade desapaixonada.

Os resultados de Kahan, porém, são fichinha perto da polêmica em torno da constitucionalidade do reajuste da caderneta de poupança que o STF deverá julgar em breve.

Na avaliação da Procuradoria-Geral do Banco Central, uma eventual decisão favorável aos poupadores teria um impacto de R$ 149 bilhões nos balanços de instituições financeiras públicas e privadas e implicaria uma retração de R$ 1 trilhão no mercado de crédito do país. Se essa não é a descrição numérica do armagedom econômico, fica perto disso.

O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor, entretanto, contesta os cálculos do BC e apresenta uma fatura bem mais modesta, de R$ 8,4 bilhões. O cataclismo insinuado na conta anterior vira aqui um rombo perfeitamente administrável.

Quem tem razão? Será que podemos atribuir à ideologia uma capacidade de distorção de 17 vezes? Aparentemente, sim. E, ao que tudo indica, é impossível erradicar a ideologia de nossas mentes. Essa é simplesmente a forma humana de raciocinar. Mas isso não significa que precisamos aceitar o fator 17 como uma fatalidade. As contas, no caso, foram feitas por instituições com claros --e legítimos, registre-se-- interesses no processo. É razoável supor que, se tivessem ficado a cargo de uma agência independente, estariam um pouco menos contaminadas. Seja como for, parece inconcebível que o STF vá decidir a questão sem saber ao certo o tamanho do impacto que terá.


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