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Opinião

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Chico Alencar

O assunto é a Copa do Mundo

Já somos hexa!

Os incontáveis privilégios comerciais assegurados pela Lei Geral da Copa criaram um Estado Futebolístico de Exceção no Brasil

Futebol é jogo coletivo que pede habilidade individual. É balé um tanto bruto, duelo com regras, onde o derrotado de hoje pode ser o vencedor de amanhã. Metáfora da vida, o futebol é o esporte mais popular no Brasil. Podemos ganhar a Copa do Mundo pela sexta vez.

Mas há um deplorável hexacampeonato já conquistado na preparação do megaevento. A Copa do Mundo Fifa 2014, "pessoa jurídica de direito privado", segundo o art. 1º da lei nº 12.663/12, é um estatuto da submissão aprovado pelo Congresso Nacional há dois anos. Seis "títulos" mundiais nos deslustram.

Ficamos em dramático primeiro lugar mundial em acidentes de trabalho. Nada menos que nove operários morreram --na África do Sul foram dois-- em tragédias evitáveis, nas obras em Manaus, Cuiabá, SP e Brasília. Faltaram análise de risco, fiscalização, equipamentos de proteção. Jogada ilegal, de efeito letal.

Somos os campeões nos gastos públicos. Foram R$ 25 bilhões oriundos de empréstimos do BNDES, Caixa Econômica, Banco do Brasil, bancos estaduais e de recursos orçamentários da União, dos Estados e dos 12 municípios que sediarão jogos, a despeito de tantas carências. O discurso oficial era de que a iniciativa privada bancaria praticamente tudo. Gol contra.

Garantimos para a empresa Fifa os mais altos lucros de sua existência: a entidade transnacional, que já arrecadou com a Copa das Confederações 7,4% a mais do que na própria Copa da África do Sul, estima ganhos superiores a R$ 9 bilhões para este ano. Sem falar nos incontáveis privilégios comerciais assegurados pela Lei Geral, que criou um Estado Futebolístico de Exceção. O "juiz" --Executivo e Legislativo-- influenciou muito o resultado final.

Construímos o maior conjunto de elefantes brancos da história dos Mundiais. É improvável o uso permanente das suntuosas e elitizadas arenas onde os campeonatos de futebol têm pouco público, como no Mato Grosso, Amazonas, Rio Grande do Norte e Distrito Federal. No Rio, com o Maracanã reformado para os Jogos Panamericanos de 2007 praticamente reconstruído, a "interdição" do Engenhão foi providencial para que os clubes fechassem contratos com o consórcio controlador do ex-Maior do Mundo. Impedimento não marcado.

Mobilizamos o maior contingente repressivo de todos os torneios: serão 57 mil soldados das Forças Armadas e 100 mil policiais federais, militares e civis estaduais, além de guardas municipais. O custo de tanta "proteção", em especial nos "locais oficiais de competição", onde a Fifa exercerá seu "protetorado", é de quase R$ 2 bilhões. Retranca total. Fraudamos as promessas do legado social. A avassaladora onda publicitária para o evento já não fala mais de herança em equipamentos públicos. Os milhares de removidos de suas casas são um legado... antissocial! Os investimentos em mobilidade urbana foram reduzidos em 60%. Frustração similar à da perda do campeonato de 1950...

Uma Copa mais do "business" que do futebol decepciona. Em abril, o Datafolha aferiu que 55% não viam vantagens para o país na realização do torneio. Futebol é paixão, mas esses tristes recordes devem provocar reflexão. É urgente mudar nossa tática para ganharmos a taça da redução da desigualdade e um título inédito em prioridade social e ética pública.


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