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Hélio Schwartsman

Magia das estatísticas

SÃO PAULO - Há algo de mágico em estatísticas. Sua fama é de serem frias e impessoais, mas é justamente isso que as torna úteis.

Se olhássemos só para os relacionamentos interpessoais e os discursos que os pontuam, seria muito difícil detectar fenômenos como racismo, preconceito de gênero etc. Basta, porém, sondar certos números agregados, como a taxa de encarceramento de negros ou diferenças de renda entre mulheres e homens, para que essas realidades se desvelem.

Foi o que se deu com as cesarianas. Levantamento feito pela Folha em cinco maternidades de São Paulo mostrou que os partos cirúrgicos aumentam significativamente nas vésperas de feriados, o que é sugestivo de que razões de agenda estão prevalecendo sobre a indicação médica. Não é algo que deponha a favor da classe dos obstetras.

Antes, porém, de sair imprecando contra esses profissionais da saúde e exigir que o governo tome medidas urgentes para reduzir o número de cesarianas, convém lembrar que números agregados também escondem algumas armadilhas.

É verdade que o excesso de partos cirúrgicos tem um custo, que, em grandes populações, pode ser verificado na maior incidência de complicações para a mãe (morte, infecções, hemorragias) e para o bebê (morte, prematuridade), sem mencionar os gastos extras para o sistema.

Ocorre que, no plano individual, não é absurdo optar pelo procedimento cirúrgico mesmo quando não há indicação clínica. Embora os riscos sejam maiores, eles permanecem baixos o suficiente para ser relevados. A chance de a grávida morrer numa cesariana no Brasil é 3,9 vezes maior que num parto normal, mas, ainda assim, inferior a uma em cada mil nascimentos --0,54 contra 0,14 por mil, para ser mais preciso. Não é exatamente uma roleta russa.

E decisões médicas, não importa muito o que digam as estatísticas, são intransferivelmente individuais.


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