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Marina Silva

Sem senso

Em visita à comunidade da Mangueira, no Rio de Janeiro, vi o Centro Cultural Cartola e me emocionei com "As Rosas Não Falam" tocada por crianças em violinos. Bate outra vez a esperança... Mesmo que os projetos estejam em risco de ficar sem patrocínio e que a parceria com os poderes públicos tenha dificuldades, a comunidade tem a força de sua cultura e a esperança sempre volta.

Mas a tristeza mora ao lado. E pode ser vista no ambiente de miséria em que vivem 300 pessoas, nos prédios abandonados que dizem pertencer ao IBGE. Fome, lixo e doença é tudo o que têm as crianças sem-teto que estão naquele lugar de desolação indescritível. Excluídos pelos excluídos, párias dos párias, os ocupantes daqueles prédios públicos nos trazem a consciência de uma ferida que corrói a todos nós, brasileiros.

Os prédios, um de cinco e outro de 14 andares, foram desocupados pelo IBGE em 2002. Só em 2011 foram doados para a Prefeitura do Rio. Neles, seria construído um centro em parceria com a Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro). Cinema, biblioteca, internet, cursos e oficinas para a comunidade. E os sem-teto os ocupavam? Foram incluídos em promessas posteriores, quando o PAC 2 destinou R$ 180 milhões para a urbanização da Mangueira, com construção e reforma de habitações, regularização fundiária, saneamento básico, escola profissionalizante, creche e unidade de saúde.

Enquanto tais sonhos não saem do papel, algo precisa ser feito. Aquelas pessoas são registradas nos censos do IBGE? Entram nas estatísticas dos governos, nos orçamentos de ministérios e secretarias? Que elas existem, quem vai à Mangueira pode ver e sentir. Mas não existe saúde, educação, cultura, dignidade nem senso: de urgência, respeito, ética e justiça.

Telefonei para o prefeito Eduardo Paes, contei o que vi. Ele prometeu tomar providências. Sugiro que não seja feita uma ação apenas do poder público, mas que sejam chamados arquitetos, médicos, professores, profissionais de várias áreas. Que sejam mobilizadas as instituições, universidades, organizações civis. E, principalmente, que sejam incluídos os próprios moradores do lugar e seus vizinhos para que seja elaborado um plano de trabalho com ação imediata, que dê resultados urgentes.

Essa é uma oportunidade para todos, nas instituições e na comunidade, superarem os limites da política convencional e criar uma política pública democrática e colaborativa. No lugar mais degradado de nosso senso de justiça, erguer um memorial à chegada da República para aquelas pessoas.

Se os moradores daquele gueto permanecerem sem-teto, sem-escola, sem-saúde e sem-dignidade, todos os que deveriam ajudá-los e não o fizerem estarão se excluindo de qualquer senso de justiça. Serão brasileiros sem senso.


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