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Hélio Schwartsman

Lei dos zoos

SÃO PAULO - Causou revolta em todo o mundo a decisão de um zoológico de Berna, na Suíça, de sacrificar um filhote de urso pardo perfeitamente saudável. O pequeno animal, que fora batizado de Filhote 4, foi morto após ter sido atacado pelo pai e negligenciado pela mãe. A primeira ideia dos responsáveis pela instituição foi deixar que a natureza seguisse seu curso. É quase certo que o bichinho seria destroçado pelo genitor. Mas, depois de refletir mais, concluíram que seria mais humano praticar uma eutanásia.

Filhote 4 será empalhado e posto em exibição, para ensinar às crianças que a natureza pode ser cruel.

Por paradoxal que pareça, essa atitude de zoos (meses atrás, um parque dinamarquês criou controvérsia ao sacrificar uma girafa macha saudável chamada Mário e com ela alimentar os leões) se inscreve numa lógica de, vá lá, "respeito à natureza".

Filhote 4 jamais sobreviveria em ambiente selvagem e, se fosse criado pelos tratadores, provavelmente se tornaria um adulto mal ajustado, como ocorreu com o mundialmente famoso ursinho Knut, em 2007.

Esse discurso não me convence pela simples razão de que a existência de um jardim zoológico já é uma negação da tal de ordem natural, pela qual alguns grupos nutrem reverência quase religiosa. E, se já estamos indo contra a natureza, podemos muito bem nos dar ao luxo de decidir se queremos aplicar a lei da selva ou algum outro princípio que nos pareça mais satisfatório. De minha parte, optaria por uma lógica consequencialista: manter Filhote 4 vivo faria mais crianças felizes, sem mencionar, é claro, o próprio animal.

Não tenho dúvidas de que a natureza pode ser cruel. O ponto central, contudo, é que nós, seres humanos, não precisamos sê-lo. Da agricultura às leis positivas, uma boa descrição da epopeia humana são nossas constantes tentativas de livrar-nos do jugo da natureza. Em várias delas tivemos êxito, em outras, nem tanto.


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