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Tragédia na Ucrânia
Desde a sua deflagração, no final do ano passado, a crise na Ucrânia não para de se aprofundar. Seu capítulo mais lúgubre foi escrito nesta quinta-feira, com o abate de um avião da Malaysia Airlines. Morreram 298 pessoas. A tragédia escancarou ao mundo a urgência de uma solução para o conflito.
A rota do voo MH17, de Amsterdã a Kuala Lumpur, evidencia o quanto a situação vinha sendo negligenciada. O Boeing-777 foi derrubado enquanto sobrevoava o leste ucraniano, região controlada por grupos armados favoráveis à anexação territorial pela Rússia.
Três dias antes, um avião de transporte das Forças Armadas ucranianas havia sido abatido por um míssil terra-ar. Na quarta-feira, uma aeronave usada para apoio foi atacada. As empresas aéreas, porém, só deixaram de sobrevoar a área após a catástrofe.
O envolvimento de civis alheios aos confrontos torna especialmente triste o episódio. Muitos dos que morreram eram pesquisadores a caminho de uma conferência de alto nível sobre a Aids, na Austrália.
Restam poucas dúvidas de que o MH17 viu-se atingido por um míssil, mas o governo de Kiev, respaldado pelos EUA, e os rebeldes, aliados de Moscou, trocam acusações sobre a autoria do disparo.
Nem os EUA nem a própria Ucrânia, entretanto, dispõem de tanto poder quanto o presidente da Rússia, Vladimir Putin, para encaminhar o fim das escaramuças.
As disputas entre ucranianos pró-Ocidente e pró-Moscou estão na origem da crise, em novembro, quando a recusa do então presidente, Viktor Yanukovych, em estreitar laços com a União Europeia provocou uma onda de protestos.
Em fevereiro, o centro de Kiev se transformou em um cenário de guerra, com dezenas de mortos. Acuado, Yanukovych abandonou a capital; o Parlamento o destituiu e convocou eleições presidenciais.
Reagindo à queda do aliado, Putin alimentou grupos separatistas na Crimeia (sul), região com forte presença étnica russa. Apesar da oposição internacional, Moscou anexou o território em março.
Tal desdobramento estimulou o surgimento de movimentos semelhantes no leste ucraniano. O apoio de Putin tem sido menos explícito, mas Kiev e os EUA afirmam que a Rússia arma os rebeldes e bloqueia o diálogo.
A proximidade histórico-geográfica e a agenda dos rebeldes fazem do presidente russo o único líder com influência real sobre a crise. Uma ação decisiva de Moscou poderia fazer cessar o conflito; sua omissão abre espaço para tragédias como a desta semana.