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Luiz Célio Bottura

TENDÊNCIAS/DEBATES

São Paulo deve adotar o rodízio ampliado?

não

Restrição sem alternativas é ineficaz

A falta de alternativas de transporte coletivo que atendam os deslocamentos pela cidade impõe o uso do transporte individual a todas as classes sociais. Hoje, com um índice de motorização de 66,2 veículos por 100 habitantes, a ampliação do rodízio atingirá a pobres e ricos. A diferença é que os ricos contornarão a restrição usando outro carro.

O vetor primordial da aglomeração urbana é a economia, sendo o trabalho o mais significativo fator de exigência de grande volume de locomoção. O trânsito, entretanto, não é o maior problema da área metropolitana de São Paulo e de outras cidades brasileiras; os mais graves são o desenho urbano e o saneamento.

A circulação urbana no Brasil é insegura e morosa demais, consequência de quase um século de altos recursos mal investidos. Medidas restritivas na circulação dos veículos nunca faltaram, em contradição com outras políticas públicas equivocadas, que estimularam o aumento da frota para poder salvar o setor automotivo.

Em 1997, quando da efetivação do rodízio no horário de pico no centro expandido de São Paulo, o índice de motorização era de 46,2 veículos por 100 habitantes. Desesperada, por não ter investido corretamente nas necessárias intervenções de trânsito e de transporte no passado, a prefeitura apelou para um rodízio diário para 20% da frota.

Houve alívio transitório, mas, como os equívocos continuaram, chegamos ao ponto em que neste ano, durante a Copa, para não passarmos vergonha perante o mundo, implantou-se de improviso o rodízio ampliado para o dia todo.

A Prefeitura de São Paulo agora propaga que pode instituir o rodízio estendido. Ou seja, quer tomar mais uma atitude na base do "acho que vai dar certo".

O Executivo municipal sempre quer controlar com restrições os problemas que não é competente para resolver. Até hoje, não foi apresentado qualquer estudo sério sobre o desempenho do tráfego nessas condições. Mesmo que algum efeito óbvio possa ser constatado, pois a redução do número de veículos em circulação traz um alívio imediato, a medida tem prazo limitado e poderá piorar a situação da cidade.

Melhorias a médio ou longo prazo somente serão atingidas com mudanças estruturais sobre o transporte público --coisa que esse paliativo operacional e provisório não traz. A aplicação dos horários do rodízio para o dia todo para os usuários dos transportes individuais, vai resultar no incremento da aquisição de segundo carro e, consequentemente, no aumento da frota de automóveis com reflexos negativos nos congestionamentos.

A única alternativa oferecida pela prefeitura para quem se desloca foi a implantação de 300 km de faixas de ônibus exclusivas à direita, medida que teve resultados pífios. O número de passageiros na rede de ônibus beneficiada por essas faixas resultou em um aumento de apenas 2%, aproximadamente, comparando-se o primeiro trimestre deste ano com o mesmo período do ano passado. A melhoria da velocidade dos ônibus não foi acompanhada pela melhoria da rede de serviço e não trouxe novas opções de viagem aos usuários.

Ouso sugerir uma medida que pode ajudar a resolver o problema do trânsito em São Paulo é a implementação de rodízios nos postos de trabalho. Nesse caso, se trabalha menos dias por semana, mas por um número maior de horas, usando melhor a infraestrutura e os postos de trabalho.

Serão menos horas perdidas por ano e mais horas trabalhadas por dia. Para efetivar esse rodízio, no entanto, é necessário mudar a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) e flexibilizar as legislações ultrapassadas que vão contra os interesses da população.


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