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Paula Cesarino Costa

Triste baía

RIO DE JANEIRO - A bombordo, a praia de Botafogo e depois o Pão de Açúcar. A estibordo, um cachorro morto e depois um sofá. Deixou de ser piada. É usual para quem navega na Baía de Guanabara deparar-se com lixo que só surpreende quem imaginava que a poluição ali se resumia a garrafas e sacos plásticos.

Do alto, a baía ainda é bela e tem a luz que encantou o pintor Paul Gauguin. De perto, parece a boca banguela vista pelo antropólogo Lévi-Strauss, como cantou Caetano Veloso.

Atletas de 34 países já se preparam para o primeiro evento-teste dos Jogos Olímpicos do Rio em 2016. "Ontem (29) vimos um cachorro morto na água", narrou o campeão olímpico australiano Matthew Belcher.

As medidas tomadas são, como sempre, paliativas. O projeto de despoluição da baía data de 1994. Foi encerrado oficialmente em 2006, sem resultado. Agora existe o Plano Guanabara Limpa, cuja meta de sanear 80% da baía até 2016 fazia parte dos compromissos olímpicos assumidos em 2009. Dificilmente será atingida. Prevê ecobarreiras para conter a sujeira dos rios que lá deságuam.

As barreiras podem impedir lixo flutuante de ganhar medalha, mas são inúteis para disfarçar a água turva, mal cheirosa e viscosa, que há décadas está imprópria para banho.

Difícil aceitar a inoperância e incompetência de sucessivos governos que enterram milhões de dólares no fundo da baía. A Olimpíada poderia ter sido um pretexto. Nem assim o país, que se move de olho na imagem, preocupou-se em acabar de verdade com a cena da baía cheia de lixo. A cena se replicará no mundo.

Triste baía, em grau que Gregório de Matos não imaginaria ao versejar sobre outra baía, a de Todos os Santos. Não menos linda, mas também suja. Quão dessemelhantes são de quando os portugueses se maravilharam ao adentrá-las. Quisera Deus que um dia amanheçam limpas e belas, dignas de outros poemas.


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