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Ruy Castro

Por dois ou três meses

RIO DE JANEIRO - Na primeira Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), em 2003, haveria uma mesa sobre literatura e humor com Millôr Fernandes, Luis Fernando Verissimo e eu. Por doença na família, Verissimo precisou voltar para Porto Alegre. Donde os dois teríamos de desempenhar. Então, para melhor andamento dos trabalhos, adotei a única postura compatível: fiz-me de escada. E Millôr deu-nos uma aula de como a única coisa séria do mundo é o humor.

Éramos amigos desde 1968, quando fomos apresentados por Paulo Francis na revista "Diners", de que Francis era o diretor e Millôr, o principal colaborador (alguns dos outros: Glauber Rocha, Armando Nogueira, Paulo Mendes Campos). O grosso da revista era escrito por Flavio Macedo Soares, Alfredo Grieco e eu, os três na casa dos 20 anos. Como se podia ser tão jovem --e tão bem pago?

Quando Millôr ia à Redação, na rua do Ouvidor, ficávamos todos (e mais Telmo Martino, assistente de Francis) rindo à toa, ouvindo-o sobre qualquer coisa. Millôr era categórico e, com sua retórica shaviana (de Bernard Shaw, o escritor amado), podia sê-lo. Uma expressão que usava muito era "Não há hipótese", certo de que, analisadas as demais possibilidades, sua conclusão é que era a correta. Em 1968, não o admirávamos somente pelo gênio, mas pela independência. Ninguém dizia a Millôr Fernandes o que pensar.

No fim do ano, Francis foi preso pelos militares, e Béki Klabin, dona da revista, resolveu fechá-la. Custava uma fortuna ao Diners Club, dava prejuízo e, agora, era o que faltava, um diretor preso político. Mas havia matéria comprada e publicidade vendida para mais dois ou três números. Béki chamou Millôr para editá-los, e ele convocou a mim e a Marina Colasanti para ajudá-lo.

Alguns amigos meus cursaram a Sorbonne. Eu, por dois ou três meses, tive Millôr como chefe.


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