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Opinião

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Lauro Gonzalez

TENDÊNCIAS/DEBATES

O limite do crédito ao consumo

No cenário atual, os resultados mostram que o Brasil parece ter muito crédito ao consumo para pouco Produto Interno Bruto

O Banco Central anunciou, há poucos dias, medidas de estímulo ao crédito em geral, incluindo empréstimos para promoção do consumo. Vale lembrar que o estoque total de crédito, que há dez anos representava 24% do tamanho da nossa economia --medido pelo Produto Interno Bruto (PIB)--, hoje atinge cerca de R$ 2,8 trilhões, o que representa cerca de 56% do PIB.

Apesar da menor velocidade de expansão atual, considerando os últimos dez anos, a taxa de crescimento média do volume de crédito ficou acima de 20% ao ano --número bastante elevado para qualquer mercado. Como consequência, o crédito ocupa hoje um espaço muito maior nas finanças de pessoas e empresas.

Examinando os números, os empréstimos para pessoas físicas, fortemente ligados ao consumo, são um dos grandes destaques em termos de crescimento.

Sendo assim, cabe indagar se ainda há espaço para o crédito relacionado ao consumo crescer de maneira sustentável, em particular aquele direcionado para pessoas de baixa renda, que podem estar vivenciando um processo de sobre-endividamento em vez de uma real melhoria nas condições de vida.

Vale lembrar que as principais modalidades de crédito ao consumo no Brasil são o crédito pessoal (entra aí o consignado), o cartão de crédito, a aquisição de veículos e o cheque especial. A relação entre crédito ao consumo e PIB no Brasil é hoje de 15,3%, a mais alta entre as economias da América Latina --onde a média é de aproximadamente 8%. A título de comparação, no Chile, país mais desenvolvido da região, esse número é de 11,6%.

No cenário atual, os resultados acima mostram que o Brasil parece ter muito crédito ao consumo para pouco PIB. É preciso refletir sobre os potenciais efeitos negativos de um modelo excessivamente calcado no consumo.

Uma nova dinâmica demandaria taxas de juros menores e alongamento de prazos, o que permitiria aumentar a capacidade de pagamento dos devedores por comprometer uma fatia menor dos rendimentos. De fato, boa parte dos produtos de crédito utilizado tem baixa qualidade do ponto de vista do tomador. Por exemplo, quase 30% do volume total das operações de cartão de crédito têm taxas de juros superiores a 9% ao mês.

Outro fator importante é a inclusão de um número maior de brasileiros no sistema financeiro.

Não se trata, portanto, de uma mera estratégia de expansão envolvendo realocar produtos já existentes, mas buscar inovações que criem produtos inclusivos. Por exemplo, o uso do celular e os pagamentos móveis podem reduzir os custos de transação, ou ainda a adoção da tecnologia dos empréstimos em grupo, que contribui para a redução da inadimplência.

O potencial é grande. Segundo pesquisa do Centro de Estudos em Microfinanças e Inclusão Financeira da FGV (Fundação Getulio Vargas), cerca de 39% dos adultos brasileiros não tinham conta bancária em 2013 --quase 55 milhões de pessoas.

Por fim, é preciso superar o foco no crédito como principal vetor de inclusão financeira, uma vez que não há consenso em relação ao seu efeito sobre o bem-estar dos mais pobres. É hora de inovar no desenvolvimento de mecanismos de poupança. Há evidências de que, para a parcela mais vulnerável da população, a poupança é mais libertadora do que o crédito.


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