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Opinião

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Alon Feuerwerker

TENDÊNCIAS/DEBATES

Brilho intenso

Na última terça, Eduardo Campos estava feliz, passou o jantar de mãos dadas com a mulher e sorrindo para o caçula, Miguel

Eduardo Campos cercava-se politicamente de pessoas bem conhecidas dele. Tinha resistência à aproximação excessiva dos não tão habituais. Ao começar esta caminhada presidencial, fez questão de repetir nos detalhes a sua experiência de 2006, quando era zebra e acabou governador de Pernambuco.

Alguma superstição, diziam os mais antigos e íntimos.

Eu era certa novidade na trupe. Conheci Eduardo em 2003. Eu tinha acabado de fazer a campanha de José Serra à Presidência e fui convidado pelo futuro líder de Lula na Câmara, Aldo Rebelo, para assumir a assessoria de imprensa da liderança do novo governo.

Enquanto eu procurava um lugar para morar em Brasília, Aldo pediu a certo amigo que me hospedasse. O amigo era o líder do PSB, deputado federal Eduardo Campos. Fiquei ali uns 15 dias, num canto, convivendo com a família. Por alguma razão, ele deixou que aquele estranho, desconhecido, chegasse perto.

Eu tinha grande curiosidade a respeito do neto de Miguel Arraes --um dos personagens que povoaram nosso imaginário de jovens estudantes, digamos assim, revolucionários dos anos 70.

Aquele 2003 seria emocionante, convivendo com Eduardo, Aldo, Renildo Calheiros, Sigmaringa Seixas, Beto Albuquerque, na lida para colocar e manter de pé a base congressual do novo governo, em meio ao furacão das reformas da Previdência e tributária.

Depois, a vida seguiu, vieram as crises e as dificuldades, a convivência prosperou, ele virou ministro, até me dizer, um dia, sobre a candidatura ao governo de Pernambuco. Eu achei ótimo, ele me perguntou o motivo. Porque --comentei-- seria a oportunidade de religar um elo histórico que ficara perdido em 1964.

Na eleição de 2006, convidou-me para passar o último dia do primeiro turno com ele. Na base do sacolejo, meio desajeitado, percorri Recife e Olinda na boleia de uma picape com o candidato, que acenava freneticamente para os passantes, até o momento exato em que as urnas fecharam. A fascinação dele eram a rua e o voto.

Os governos de Eduardo foram um sucesso. Em meados de 2012, no hotel em que costumava ficar em Brasília, perguntou o que eu achava do futuro. Já sentíamos no ar um cheiro de mudança, coisa que, na época, aparentava ser uma completa maluquice.

Depois, vieram as vitórias municipais, o impulso para o Planalto, as dificuldades, a estimulante aliança com Marina Silva, novas dificuldades, o estresse, os jornalistas perguntando quase todo dia sobre pesquisas e palanques regionais, o nascimento de uma campanha muito dura.

Na última terça (12), jantamos todos depois das entrevistas na TV Globo. Eduardo estava feliz, passou o jantar de mãos dadas com a mulher e sorrindo para o caçula, Miguel.

Tinha atravessado um rubicão. A maioria dos retornos e as medições científicas mostravam que tinha marcado pontos importantes. Discutimos algo sobre os debates --que começariam na TV Bandeirantes.

Eduardo me ligou na manhã de quarta (13), às 9h17. Aguardava para decolar rumo a Santos, e eu, também no aeroporto Santos Dumont, no Rio, ia pegar um voo de carreira para Brasília. Ele queria conversar sobre as entrevistas do dia.

Dizem que o avião decolou lá pelas 9h20. No registro do meu telefone celular, a conversa durou 5 minutos e 20 segundos. Foi minha última conversa com um cara legal, um sujeito que se despediu da política e da vida como viveu, brilhando intensamente.


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