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Opinião

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Edson Barbosa

TENDÊNCIAS/DEBATES

Desvendando Rogério

Marina Silva é a melhor contribuição que o Brasil pode oferecer à humanidade em oposição a fundamentalismos, do religioso ao financista

Não conheço pessoalmente o professor Rogério Cezar de Cerqueira Leite, mas creio ser um homem bom, é servidor do povo brasileiro, físico de extrema importância para a academia, cientista renomado em todo o mundo. Pelo que li no seu artigo "Desvendando Marina", publicado nesta Folha no domingo (31), penso que ele também sofre de "desordem do desenvolvimento neural" e, acrescento, espiritual.

O professor Rogério Cezar revelou uma face reducionista, preconceituosa e ignorante a respeito de Marina Silva, mas não creio que ele seja um homem de má-fé.

Marina acredita que o ser humano é uma criação de Deus; o professor Rogério Cezar e outros, idênticos a ele, acreditam que os seres vivos vieram de uma ameba, de uma gosma, da seleção natural, do próprio umbigo, da convicção que têm da própria humildade ou presunção. E daí?!

O professor ataca Marina Silva com o cutelo de um inquisidor medieval. Ele escreveu: "Percebo no fundamentalista cristão uma arrogância incomensurável, que apenas pode ser entendida como uma perversão intelectual, que não pode deixar de impor tendências cujos limites são imprevisíveis". E conclui o artigo destilando um cientificismo tosco: "O fundamentalismo de Marina Silva não decorre da ignorância, mas de um defeito de percepção. Os especialistas chamam essa condição de desordem do desenvolvimento neural". Por essa razão, torcem contra. Ora, prezado mestre da ciência, há tantas razões mais honestas para se torcer contra ou a favor de algo ou de alguém.

Nesse capítulo, Marina Silva é a melhor contribuição que o Brasil pode oferecer à humanidade em oposição a todo tipo de fundamentalismo, do religioso ao financista, até ao vaidoso fundamentalismo cientificista, que destrói milhares de famílias deste país todos os dias, na bala e na fome.

Marina é o singular mais plural que o Brasil pode oferecer ao mundo. Sobrevivente da violência e das doenças no meio do seringal, alfabetizada aos 16 anos, professora, ex-ministra do Meio Ambiente, ela é a autoridade mais respeitada pela comunidade internacional que luta pelo desenvolvimento com autossustentabilidade. Ao lado de outras personalidades mundiais, como o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, conduziu a bandeira olímpica na abertura da Olimpíada de Londres, em 2012. Parece até que era um sinal.

Convivi com Marina nesses últimos 11 meses da vida de Eduardo Campos. Fui responsável, ao lado de um grupo de amigos, pela comunicação política de ambos rumo à Presidência da República. Marina não é fundamentalista, professor, ela é respeitosa e ecumênica.

Marina Silva não é arrogante, tem autoridade, escuta, escolhe, decide. Era assim Eduardo, é assim Marina. Nem sempre acerta, mas ela me apresentou sempre a capacidade de rever, de reconhecer e de mudar, como espero que mude sua opinião, professor.

Para não concluir sem reconhecer méritos no artigo do mestre Rogério Cezar, adorei o romantismo barroco, quando diz que reconhecemos em Marina um "caudal aurífero eleitoral".

Como postou no Facebook recentemente o grande poeta Caetano Veloso, "o que está à nossa frente é a nossa respeitabilidade como nação. Recusar isso seria estar cego para toda luz". É verdade.


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