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Os rumos de Skaf
Crescimento do candidato do PMDB, ainda sem abalar favoritismo de Alckmin em São Paulo, reproduz a atração nacional pela "terceira via"
O carro vai por uma estrada sinistra, com nuvens de chumbo no horizonte. Ouvem-se graves palavras do locutor. Para impedir que o PT chegasse ao governo paulista, o eleitor se contentou com pouco.
Maus resultados na saúde, na educação e na segurança seriam tolerados, prossegue o raciocínio, porque não havia surgido alternativa antipetista à administração de Geraldo Alckmin (PSDB).
A propaganda mostra o carro saindo da estrada (o pisca-pisca sinaliza o rumo da direita). O horizonte se abre e se ilumina: surge a candidatura de Paulo Skaf (PMDB).
Ainda favorito na disputa estadual, Alckmin (53% das intenções de voto) vê diminuir o intervalo que o separa do peemedebista. Passando de 16% para 22% das preferências populares, Skaf vai se firmando como opção para quem quer fugir da tradicional polarização entre tucanos e petistas.
Diferentemente do que indica a ascensão de Marina Silva (PSB) na corrida presidencial, está longe de garantida a passagem de Skaf ao segundo turno. Em que pesem as disparidades desses dois candidatos, cabe perguntar se o mesmo fenômeno --o da busca de uma "terceira via"-- não se verifica.
Como no caso da petista Dilma Rousseff, o tucano Geraldo Alckmin se beneficia de maior vantagem entre os eleitores mais velhos e os que moram em municípios com menos de 50 mil habitantes. Nessas cidades, a vantagem de Dilma sobre Marina é de 43% a 30% dos votos. Também aí a de Alckmin sobre Skaf é marcante, 58% a 17%.
Há algumas ironias nesse processo. Primeiro, a aspiração pelo novo parece fazer pouco caso do perfil específico dos candidatos que a encarnam. Skaf, afinal, concorre pelo PMDB, partido que é responsabilizado por muito da estagnação fisiológica que acomete a política. Trata-se, ademais, do maior aliado do PT no plano federal.
A propaganda de Skaf, por outro lado, insiste na eficiência empresarial e nas promessas de gestão técnica da coisa pública para atacar Alckmin. São exatamente esses os pontos que o PSDB invoca ao se opor à gestão petista.
PT e PSDB, desse modo, amargam críticas semelhantes, conforme ocupem o situacionismo no plano federal ou estadual. Em proporção diversa, Marina e Skaf se beneficiam de inconformidade difusa.
O automóvel que envereda pela direita, na propaganda de Paulo Skaf, talvez seja o mesmo que sinaliza em várias direções no caso de Marina Silva. Mas o mapa de ambos, se quisermos prolongar a metáfora para seus programas e compromissos políticos, ainda carece de um mínimo de precisão.