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A política da arte

Depois de atravessar, no final da década passada, dificuldades financeiras e administrativas, a Bienal de São Paulo parece ter reencontrado os meios de preservar, sem sobressaltos, sua tradição.

A primeira edição da mostra de arte ocorreu em 1951, num pavilhão localizado no Trianon, onde hoje está o Masp. Reuniu artistas de 23 países e mais de 1.800 obras. Fruto das ambições e dos esforços de setores da elite paulista, a Bienal fixou-se como data relevante no calendário internacional.

Neste ano, uma vez mais um séquito de diretores de museus, críticos, artistas e colecionadores visita a cidade de São Paulo na semana de abertura da exposição.

Como já ocorreu no passado, a atual curadoria enfatiza as relações com a política. "O que me interessa são artistas que estão olhando para o que acontece agora, não os que pesquisam a história da arte", declarou a esta Folha o curador britânico Charles Esche.

Relações entre arte e política são tradicionais e inevitáveis. Costumam manifestar-se de diversas maneiras, das mais sutis às mais explícitas e panfletárias.

Na Bienal, a proposta é privilegiar um tipo de intervenção que se volta para questões atuais, com o ponto de vista de minorias e excluídos. A fórmula assegura uma dose de polêmica ao evento, ingrediente obrigatório nas grandes exposições mundiais do gênero.

Já se noticiou que o público poderá ver uma pintura realista de presidiários de Belém; um vídeo que narra a transformação de um travesti em pastor; uma simulação cinematográfica da implosão do Templo de Salomão; uma coleta de imagens feitas pela polícia durante manifestações.

Em sintonia com esse figurino, um grupo de 55 dos 86 artistas assinou manifesto que pede à Fundação Bienal a devolução do patrocínio de Israel (R$ 90 mil num total de R$ 24 milhões) a título de protestar contra o massacre em Gaza.

Compreende-se a revolta contra a investida israelense, mas não faz sentido pressionar a Bienal a criar uma lista de negra de nações.

Quais seriam os critérios? Contribuições dos EUA, país com tradição de intervenções militares, deveriam ser vetadas? A China, uma ditadura, estaria impedida de doar? Não seria o caso de censurar o apoio do próprio Brasil, onde a violência mata muito mais do que no conflito israelo-palestino?

Apesar de seu pretenso simbolismo, o protesto dos artistas parece equivocado e pueril. Ganhará o público se a qualidade estética das obras expostas no Pavilhão do Ibirapuera mostrar-se mais sofisticada do que a visão política que embasou esse manifesto.


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