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André Singer
As ondas
Os vaivéns da eleição presidencial entraram em ritmo previsível depois do solavanco causado pela morte de Eduardo Campos. De imediato, houve a onda verde, com a candidata do PSB alcançando 34% das intenções de voto em poucos dias. Proeza e tanto para quem dispõe de apenas dois minutos no horário eleitoral. Não chegou a ser um tsunami, mas foi grande o bastante para assustar os concorrentes.
Agora a vaga está refluindo devagar, em função de fenômenos diferentes. O primeiro é o que os americanos chamam de "bandwagon effect". Trata-se da tendência que existe em parcela do eleitorado de se agregar ao ganhador. Afeta uma parcela pequena, em geral pouco interessada em política. À medida que a subida de Marina estancou, os que haviam aderido com o objetivo de subir no trem vitorioso voltam a ficar em dúvida.
Era inevitável que ocorresse, já que a ocupação de espaços eleitorais consolidados por Dilma e Aécio impõe um teto para o crescimento da ex-senadora. Ficarão com a candidatura ambientalista os que já vinham demonstrando desde 2010 e de junho do ano passado enxergar nela um significado mais profundo. Note-se que Marina tinha 27% em abril e agora está com 30% (Datafolha).
É possível que os afetados pelo bandwagon estejam voltando para Dilma, que recuperou o patamar anterior ao solavanco, embora as pesquisas disponíveis não tragam informação sobre isso. A dedução decorre de que, sendo eleitores de menor interesse por política, tendem a ter menor escolaridade e renda, segmento no qual o lulismo nada de braçada. A hipótese é compatível com a queda de três pontos percentuais de Marina entre os que ganham até 5 salários mínimos de renda familiar mensal.
O segundo efeito atinge o polo oposto, onde estão os votantes de alta renda e escolaridade. Neste segmento o PSDB vai melhor. Ali o eleitor tem mais informação, o que o leva a fazer cálculos improváveis em outras camadas. De início, houve nesta área inclinação por fazer voto útil em Marina, de modo a derrotar o PT, desde já. Agora começa a ficar claro que pode ser mais racional votar em Aécio no primeiro turno, que foi criado para tanto, deixando o sufrágio antipetista para o momento posterior.
Em todo caso, parece que os votos deste eleitor mais rico estão fluindo para Aécio, o que explica a sua melhora nos últimos dias, no qual se aproxima, também, da intenção de voto que tinha antes do acidente com Campos. A menos que ocorra alguma marola inesperada, o quadro do primeiro turno está mais ou menos fixado e cabe esperar pela próxima onda, que deve ocorrer logo depois de 5 de outubro. A depender do seu tamanho, saberemos quão apertada será a batalha final.