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Kenneth Maxwell

Charles Boxer

Almocei na semana passada com Helder Macedo, que por muitos anos ocupou a cátedra Camões de Português no King's College. Aposentou-se em 2004 e é bem conhecido no Brasil como poeta, ensaísta e romancista. Era forte opositor da ditadura de Salazar, em Portugal. Foi aprisionado em Lisboa e depois viveu no exílio em Londres, nos anos 50.

Entre os predecessores de Macedo esteve Charles R. Boxer, notável historiador do mundo lusófono bem como do império colonial holandês. Ele foi autor de "Salvador de Sa and the Struggle for Brazil and Angola 1602-86" (1952), que julgo seu melhor trabalho, no qual conta a notável história de Salvador de Sá, que combateu a invasão holandesa da Bahia e reconquistou Angola e São Tomé para os portugueses. Mais tarde, foi governador do Rio de Janeiro, do sul do Brasil e de Angola.

Boxer era oficial do exército britânico antes de ser apontado para a cátedra Camões, em 1947. Serviu no exército japonês como parte de um intercâmbio de oficiais, nos anos 30, e virou prisioneiro de guerra quando eles conquistaram Hong Kong. Nos EUA, era mais conhecido por seu caso com Emily Hahn, jornalista e escritora da revista "New Yorker" que conheceu em Xangai e que se tornaria sua segunda mulher. Boxer morreu em 2000, aos 96 anos.

Sempre me senti um pouco intimidado diante de Boxer. Ele parecia supremamente competente. Fomos apresentados em 1968, quando fui entrevistado para uma posição na Universidade de Indiana. Boxer tinha se aposentado há pouco e era professor visitante em Indiana. Eu estava na biblioteca Newberry, em Chicago, concluindo minha dissertação. Levei um guarda-chuva para a entrevista com o professor Robert Quirk, que parecia mais interessado no guarda-chuva do que em mim. Não é preciso dizer que não consegui o posto.

Mas tive uma maravilhosa noite com Charles Boxer. A venda de álcool provavelmente era restrita em Indiana, na época (ressaca da época da Lei Seca; não era possível comprar álcool por doses --a pessoa tinha de ter uma garrafa pessoal no bar). A mesma regra se aplicava no Kansas, onde consegui meu primeiro emprego (não levei guarda-chuva para aquela entrevista).

Um jovem estudioso de história espanhola, Richard Kagan, também lecionava em Indiana na época e tinha um pequeno carro. Ele nos levou de Indiana ao Illinois, onde desfrutamos de um delicioso jantar acompanhado por uísque e vinho. Boxer insistiu em se acomodar no (minúsculo) assento traseiro para a longa viagem de volta. Não adiantou protestar. Ele era muito persistente.

Mas Boxer não permaneceu muito tempo em Indiana. Depois, no mesmo ano, foi convidado para a Universidade Yale pelo historiador Richard Morse, que, como Boxer, também apreciava seu uísque escocês.


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